O cidadão comum e o enigma da Procempa

O cidadão comum e o enigma da Procempa

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O leigo simplifica as coisas.

É o seu estilo.

Vai direto ao ponto.

Nas ruas, o que se ouve é assim: “Tem uma roubalheira danada na Procempa”. Ou: “A roubalheira é tanta que, quando a polícia chegou, um cara jogou um maço de mais de R$ 40 mil pela janela”.

O que se espera  num casos desses? Muita investigação. O que se ouve: se os suspeitos são do governo, a oposição pede CPI. Os aliados do governo reagem com o tradicional: “O Ministério Público já está investigando”. Quando as posições se invertem, quem antes queria CPI lembra que o MP já está investigando. Quem não queria, por se contentar com o trabalho do MP, esquece o passado e pede CPI.

Que coisa!

O leigo, o cidadão comum, o eleitor simples, esse reage assim: “Que teatro!”. Os mais enfáticos agridem: “Bando de safados”. Agora, o que pensar quando, depois de graves denúncias sobre corrupção e um pacote de dinheiro jogado pela janela, três vereadores da base aliada assinam requerimento para instalação de uma CPI e, em represália, demitem os seus CCs?

O homem do povo deve pensar, por ser simples e até simplista, que quem adota tais medidas quer transparência ou está fazendo de tudo para cobrir seus flancos e proteger amigos?

O caso Procempa é constrangedor.

Revela algo assustador: quem está no poder faz qualquer coisa para impedir CPIs.

Três vereadores da base aliada saem engrandecidos dessa pendenga: Lourdes Sprenger (PMDB), Séfora Mota (PRB) e Cláudio Janta (PDT). Os três decidiram agir conforme o que a consciência manda sem se deixar cercear pelas conveniências partidárias. Botaram seus nomes na lista favorável a CPI.

As retaliações não demoraram. Janta é reincidente. Vai acabar sendo expulso do partido. Ele vem pensandocomo o homem da rua: tem suspeita, investiga. Quanto mais investigação, melhor. Punir quem quer mais investigação soa como tentativa de asfixia. Quem é que vai pensar desta maneira: queremos transparência, mas sem CPI? Se investigação do Ministério Público ou da polícia basta, para que CPI? Basta fazer acordo ou lei: sempre que uma investigação já estiver em curso, nada de CPI.

Toda CPI é política.

Serve mais à disputa partidária do que ao esclarecimento de fatos. Toda tentativa de frear CPIs como a da Procempa, com represálias frontais, representa para o povo a vontade de tapar o sol com a peneira. O leigo traduz a coisa nestes termos básicos: “Estão querendo esconder alguma coisa braba”.

A reação da base aliada , com a CPI dita da “invasão” da Câmara de Vereadores, nasce sob medida para tentar pegar o PT e o PSOL, acusados de fomentar e dar cobertura à ocupação/invasão.

Mais uma vez os três vereadores mosqueteiros sobressaem: Janta assinou as duas CPIs. Séfora e Lourdes não tiveram oportunidade de assinar na da “invasão”, mas garantiram no Esfera Pública estar prontas a fazê-lo. O leigo, por ser simplório, mais uma vez, surpreende-se e faz a pergunta inesperada: não seria melhor uma CPI das planilhas do transporte coletivo de Porto Alegre? A CPI da “invasão” pode ser chamada também de CPI do sofá da sala na casa do traído. Tira que resolve.

O PTB perdeu, enfim, o controle da Procempa.

O prefeito José Fortunati acertadamente resolveu controlar as contas e cortas CCs.

Porto Alegre aguarda novas sacudidas.

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