O espetáculo da Justiça midiática
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Surge uma “política espetáculo, uma justiça espetáculo, uma medicina espetáculo...” Uma justiça espetacular? Não! Tudo passa a ser regido “pela combinação de cinco aspectos principais: a incessante renovação tecnológica, a fusão econômico-estatal, o segredo generalizado, a mentira sem contestação e o presente perpétuo”. Nada de passado. Sem futuro. O público a serviço do privado. Julian Assange e Edward Snowden investiram contra o segredo generalizado e contra a mentira sem contestação. Pagarão com o exílio permanente. A justiça espetáculo, como a da Lava Jato, atribui ao investigado o crime perfeito, aquele que não pode ser provado. A prova do crime é a impossibilidade da prova. Em consequência, deve-se abandonar a lógica cartesiana da demonstração cabal. Qualquer contestação a essa modalidade de justiça é condenada como defesa.
Defesa ou cumplicidade. O homem comum, o cidadão, está cercado. A maior autoridade espetacular é o especialista. Só ele pode saber. Debord define: “Todo especialista serve a seu senhor, pois as antigas possibilidades de independência foram praticamente reduzidas a zero pelas condições de organização da sociedade atual. O especialista que mais bem serve é aquele que mente. Quem tem necessidade de especialistas, por motivos diversos, são o falsificador e o ignorante. Quando o indivíduo já não consegue reconhecer nada sozinho, ele vai ser formalmente tranquilizado pelo especialista”.
Antigamente, segundo Debord, “era normal que houvesse especialistas em arte etrusca”. E hoje? Em tudo. Até mesmo na definição da falta de provas como prova suprema. A tarefa do especialista é produzir um discurso circular e midiático. Algo é porque foi dito pelo especialista. Se não fosse, o especialista não teria dito. Para que o efeito ocorra, contudo, é preciso que ele fale na mídia e utilize a linguagem emocional do espetáculo. O espetáculo não julga. Condena antes do julgamento. Condena o acusado e qualquer um que emita ressalvas aos seus procedimentos. O espetáculo não admite réplica. É irrefutável por definição. A figura que cauciona o espetáculo é o espectador, que “fica sempre olhando para saber o que vem depois, nunca age”, pois “assim deve ser o bom espectador”.
Debord citava um certo Karl Marx, que denunciava o financiamento dos partidos, organismos que viam na atividade governamental “a principal presa do vencedor”. O especialista atual, porém, garante que tudo foi inventado no século XXI. Bom saber. Não mudará coisa alguma. Mas me dará a sensação de ter antecipado.
Sérgio Moro vai cumprir o ideal da mídia brasileira: colocar Lula na cadeia.
A justificativa será o sítio. Ou o triplex.
A razão profunda para os que odeiam Lula será o conjunto da obra.
Especialmente a parte que funcionou.