O legado racista dos farroupilhas

O legado racista dos farroupilhas

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Em meu livro "História regional da infâmia - o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras", cito uma passagem do diário de Antonio Vicente da Fontoura, o homem que tratou com o Império do fim da guerra civil, o que os farrapos chamaram de acordo de paz e os imperiais de rendição e anistia.

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"Antônio Vicente da Fontoura, o homem que negociou a paz com os imperiais, tendo ido ao Rio de Janeiro como emissário farrapo, nunca escondeu o seu racismo nem a sua defesa da escravidão. No diário que escreveu entre 1º de janeiro de 1844 e  22 de março de 1845, anotou, num momento de nostalgia e saudades da família, este sonho de bom pai: "Cruzam-me na idéia mil planos: deste tiro o lucro para comprar uma moleca para Lindoca; de outro, mais um cozinheiro; e inda de mais outro, de ver decentemente vestidos os nossos filhinhos, Ah! Muito vale aos infelizes a esperança!" (1984, p. 54). Não é tocante? Era o dia 5 de março de 1844. Vicente da Fontoura sonhava com a paz. Nada como imaginar, no meio da guerra sem fim, um futuro de progresso, de liberdade e de crianças bem vestidas brincando com seus negrinhos escravos!"


O único jeito de resolver a questão foi trair os negros em Porongos.


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A única desculpa encontrada atualmente é a do relativismo: eram os valores da época. Não eram, por exemplo, os valores de todos os que já haviam abolido a escravidão no mundo. Nem de homens que libertaram por contra própria os seus escravos. Entre eles. Bolívar e La Fayette.


Os lideres farroupilhas legaram tropilhas de negros para seus herdeiros. "Segundo os inventários divulgados pela historiadora Margareth Bakos (in Dacanal, 1985, p. 95): João Antônio da Silveira (1873), 2 em São Gabriel e 26 em Rio Pardo; Antônio Vicente da Fontoura (1861), 19; José Gomes de Vasconcelos Jardim, um dos presidentes da República Rio-Grandense (1854), 47; Bento Gonçalves da Silva (1847), 53."

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