Olímpico, STF, cassados e outras ninharias

Olímpico, STF, cassados e outras ninharias

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Sou obrigado a discordar do vereador Pedro Rual, a quem muito admiro por suas propostas sempre certeiras como trocar o nome da avenida ditador Castelo Branco para Avenidade da Legalidade: o Olímpico não deve ser tombado, mas derrubado. O Grêmio não pode ter dois estádios na mesma cidade. Já foi uma demasia da prefeitura permitir a Arena na entrada/saída de Porto Alegre. Muitos visitantes ficarão com essa imagem na cabeça e poderão pensar que é o principal estádio da capital ou o único, algo terrível para nossa dualidade estrutural.

Essa posição distorce a realidade e privilegia o lado tricolor do Rio Grande do Sul, o que obrigará o Inter a conquistar mais títulos relevantes para contrabalançar esse desequilíbrio.

O tombamento do Olímpico impediria um espetáculo muito esperado: a implosão do glorioso estádio do Grêmio, o que atrairá mais público que o show da combalida Madonna.

*

Sou totalmente a favor da cassação dos corruptos.

Sou a favor da cassação pela Câmara dos Deputados.

O STF foi além das suas prerrogativas.

Vem fazendo isso ao longo do julgamento do mensação.

Condenou, em alguns casos, sem provas materiais.

Seguiu a pressão da mídia.

Como isso atende ao interesse de alguns, entre os quais a mídia conservadora e os antipetistas, isso tem sido saudado como avanço jurídico. Burlar a lei virou sinônimo de rigor.

O equilíbrio de poderes exige certas sutilezas. O STF condena, o legislativo cassa parlamentares.

Fora desse quadro, o STF se põe acima dos outros poderes.

Estamos vivendo a judicialização total da política.

Luiz Fux foi feito ministro do STF para absolver mensaleiros.

Teve uma crise de consciência e votou contra os mensaleiros.

Dilma Rousseff, em cerimônia no STF, nem o cumprimentou.

Ele ficou magoado.

Depois disso, Dilma vetou a redistribuição dos royalties do petróleo.

O Rio de Janeiro ficou feliz.

O parlamento resolveu derrubar o veto.

Os cariocas foram ao STF.

Fux, para puxar o saco de Dilma, "vetou" a derrubada do veto. Mandou o Congresso votar antes alguns milhares de vetos jamais examinados e que aguardam na fila.

O Congresso vai votar três mil vetos em bloco.

Conclusão: o Congresso não é sério. Nem o STF.

Joaquim Barbosa lê a Constuituição como bem entende. Lê até o que não está escrito nela. Celso do Melo foi mais longe: "O monopólio da interpretação da Constituição pertence ao STF".

Está certo.

Mas não há monopólio da opinião pública.

Joaquim Barbosa é o Hugo Chávez brasileiro.

FHC já havia dado uma de Chávez quando deu um jeito de mudar a Constituição para se reeleger.

Foi um golpe branco.

O segundo mandato de FHC foi ditatorial.

Ou Chávez não é ditador.

Manda e desmanda, interpreta a Constituição a seu bel prazer, vai mandar os condenados para a prisão quando estiver sozinho, sem ninguém para contestá-lo. Como está servindo, os mesmos que condenariam as suas atitudes em outro contexto, aplaudem-no. Esses mesmos que defendem a sagrada vigilância do STF sobre a Constituição condenam a Corte Suprema argentina quando diz que a Lei dos Meios é constitucional. Eu digo que STF e corte argentina estão certos.

Com os textos constitucionais confusos de que dispõem.

Os nossos parlamentares precisam revisar a constituição brasileira para que ela fique mais clara.

Cassação de parlamentares pelo STF é coisa do tempo de ditadura, mesmo que eles sejam larápios. A turma do campo jurídico pode estar feliz com isso por conservadorismo ou orgulho. Há outros olhares. Por exemplo, o olhar da sociologia, da ciência política, do jornalismo e do cidadão.

Se eu fosse o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia, eu descumpria e renunciava.

Renunciava à presidência da Câmara para não cumprir.

Ou para firmar posição.

*

Termino o ano imparcial: pela implosão do Olímpico e contra a cassação de deputados pelo STF.

Termino o ano implacável: pela cassação dos deputados larápios pelo Congresso.

Obs: dos três deputados cassados só um é do PT. Portanto não há petismo em condenar o golpe dado pelo STF, o que, segundo Paulo Henrique Amorim, igual o Brasil ao Paraguai.

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