Passado e presente na corrupção brasileira

Passado e presente na corrupção brasileira

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A lógica é um problema universal. A interpretação de textos é um dilema brasileiro.

Vejamos esta observação: "Depois de roubar por 500 anos, direita exige honestidade do PT".

O antipetista tende a interpretá-la como um autorização para o PT  "roubar".

O petista enxerga uma relativização dos seus malfeitos.

Passemos a outra observação não menos ambígua: "Depois de falar em honestidade por 20 anos, PT reclama direito de ser como os outros foram em 500 anos".

O antipetista tende a ver nisso uma crítica à arrogância petista, mas rejeita a segunda parte da afirmação.

O petista fica apenas com a parte final.

Eis o problema.

Quem pode apontar o dedo para quem?

Quem pode se apresentar como fiador de um futuro honesto para o Brasil?

O DEM – cujo presidente nacional, José Agripino Maia, está sendo investigado pelo STF sob suspeita, conforme denúncia feita em delação premiada, de ter pedido propina – pode se apresentar como perspectiva de um futuro honesto para o Brasil?

Maia foi às manifestações contra a corrupção.

O PSDB, cujos governos paulistas de Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin estão envolvidos nas investigações sobre o cartel de empresas que pagou propina a funcionários públicos para ter privilégios na obras do metrô de São Paulo, pode se apresentar como fiador de um futuro honesto para este Brasil abalado por tantas denúncias de corrupção?

O mesmo PSDB, acusado de ter inventado o mensalão, em Minas Gerais, de ter comprado a emenda para a reeleição de FHC e de ter, através do seu presidente, o falecido Sérgio Guerra, pedido dinheiro para abafar uma CPI, sem contar a tal lista de Furnas, pode realmente se apresentar como uma opção honesta contra a corrupção que domina o país?

O PMDB de Eduardo Cunha e Renan Calheiros, integrantes da lista Janot, pode ser o futuro honesto do Brasil?

O PP, campeão de nomes na lista Janot, pode sonhar em construir o futuro honesto do Brasil?

Trabalhemos com algumas sínteses:

– O presente corrupto do PT não pode servir para absolver o passado corrupto dos seus críticos e muito menos para dar a estes o direito de se apresentarem como os fiadores de um futuro honesto para o Brasil.

Em termos abstratos (lei geral):
– Meu presente corrupto não absolve o teu passado de roubalheiras nem garante que o teu futuro será oposto ao que temos, tu eu eu, sido em algum momento da história.

Esta outra formulação também é verdadeira:

– O passado corrupto da direita não dá à esquerda o direito de roubar no presente nem de fazer isso no futuro.

Não se trata, portanto, de absolver o PT com o passado dos seus oponentes. Tampouco de absolver os oponentes com o presente do PT. A questão é simplesmente esta: quem pode tomar o lugar desses que, no presente ou no passado, fizeram o mesmo?

Existem aqueles que resolvem o problema acreditando que os oponentes do PT não tem um passado comprometido.

Ou que, por ideologia, absolvem esse passado e pronto.

Quem faz isso, mesmo que não perceba, assume que seu problema não é a corrupção, mas a ideologia petista.

É o cara que faz da corrupção um pretexto para atacar, por exemplo, as políticas sociais do petismo.

O petismo, porém, faz o jogo inverso: usa as suas políticas sociais como atenuante para seus ilícitos.

Aquele que se coloca contra a corrupção de todos os partidos só pode assumir uma posição: rejeitar todos os partidos envolvidos em ilícitos. Sobra quem? O PSOL garante que é limpo. Mas o PSOL assusta por ser muito de esquerda e até marxista.

O que fazer para zerar e começar de novo?

Uma reforma política ajudaria. A consciência do eleitor, não reelegendo corruptos, ajudaria mais ainda.

O que temos no momento?

O sujo falando do mal lavado.

Diante dessa constatação, que joga muita gente no mesmo cesto de roupa imunda, o sujo e o mal lavado fazem pose de democratas: "Assim também não, isso é muito perigoso, não se pode jogar fora a criança com a água suja da bacia".

A política dos partidos brasileiros que exercem o poder tem um denominador comum no momento: o esgoto.

O resto é oportunismo, partidarismo fanático, lacerdismo e falácia.

Uns querem dar um golpe derrubando Dilma.

Outros querem tapar o sol com a peneira para continuar no poder sem mudar.

A faxina precisa ser geral. Mas para frente.

As manifestações de 15 de março mostraram muito desejo de voltar para trás.

Ao contrário do que dizem alguns, a defesa da ditadura foi ampla, visível e variada.

O desafio para o Brasil é encontrar a saída dentro da lei.

Como mostrar isso a partidos que vivem fora da lei?

E a pessoas que elegem malfeitores?

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