Pedra, pêssego e pó

Pedra, pêssego e pó

Rastro de uma ambição

publicidade

A tarde era tão mineral quanto um bicho fossilizado,

Árvores retorcidas imploravam por água e sombra

Meus pés enterravam-se na poeira das poucas ruelas

Era uma estrada que se curvava para evitar o Uruguai

Como, antes, as almas dos índios fugiam do Paraguai

Senhoras avançavam enfeitiçadas pela chama das velas

Casei num sábado enquanto velhas descascavam pêssegos

Da infância guardei apenas o aroma de figos maduros

E certos mapas mentais que não me tiram de apuros

Sei que morrerei num final de tarde com cheiro de fruta,

Um crepúsculo que se apagará como as luzes da estação

Fazendo do meu corpo o que sempre foi, uma gruta.

Nesse dia, então, eu me tornarei pedra, pêssego e pó.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895