Poema antes de uma viagem
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Teu corpo era um imenso areal,
Quente e suave, par do oceano,
Praia desnuda, pedra de sal.
As ondas batiam nas tuas coxas
Como gaivotas pegando peixes.
Teus olhos negros eram feixes,
Feixes de luz, fogueira do sol.
O vento lambia os teus ombros,
Eriçando os vastos coqueirais.
Monções irisando marcas de cal.
Minhas mãos perseguiam as águas,
Silenciando velhas mágoas,
Sumindo em precipícios cálidos,
Espalmando barras no horizonte.
De repente, eu me via marujo
Amargando a aspereza do mar,
Recolhendo conchas, ossos,
Baús sem tesouro, carcaças.
Há em cada corpo uma ilha insondável,
Em teus seios um mistério inviolável.
Em cada porto um navio abandonado.
Aquilo que achei nessa viagem,
Guardei, esqueci, apaguei.
Murmurei...
Atraquei.
Hoje, sou pescador de lembranças.