por que Huck quer ser candidato?

por que Huck quer ser candidato?

Apresentador nem síndico foi.

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 O tabuleiro eleitoral está em mutação com retorno de Lula. Mas Luciano Huck ainda quer ser candidato à presidência da República. Só tem medo de largar o seu programa de televisão. Por que mesmo o apresentador quer saltar da telinha para o Planalto? Ele não quer ser deputado federal nem senador. Quer ser logo presidente da República. Quais as suas competências? Quais as suas credenciais? Qual a sua experiência em gestão, em política, em trato da coisa pública? Toda a sua história se resume a um programa como tantos outros, alavancado pelo lado assistencialista milionário. Huck flerta com a direita, não deixa de piscar para a esquerda, imagina-se de centro, despreza ideologias, o que o aproxima da ideologia de direita, e faz cálculos. Dependendo do que render mais, será de esquerda, direita ou centro.

      Quais são as ideias política de Luciano Huck? Quais as suas lutas? Talvez ele pense simplesmente que se Jair Bolsonaro pode, por que ele não? Mais precisamente, se João Dória é governador de São Paulo, por que ele, apresentador muito mais famoso, não seria presidente da República? Na democracia espetacular a única competência realmente importante é a visibilidade capaz de ser transformada em votos. Os partidos não têm o menor pudor. O PSDB, que adora posar de racional, corteja-o abertamente. O DEM só não o pede em casamento por estratégia. Fala-se até na possibilidade de ele concorrer pelo PSB. Imagino que o PSOL não o queira. Huck cansou de fazer sempre o mesmo nos sábados à tarde. Parte da população brasileira acha o seu programa medíocre. Será o que seu programa de governo seria um pouco melhor?

      Muita gente votaria nele por benefícios recebidos. Isso faria dele um candidato moderno ou tradicional? Luciano Huck hesita. É como outra estrela da mídia, mais tosca, José Luís Datena. A cada eleição Datena sinaliza que vai. Depois, pensa no salário que vai perder, na tranquilidade do piloto automático com que toca a vida, e desiste. Huck quer espantar o tédio. A Rede Globo acena com uma cenoura: o lugar de Faustão aos domingos. Do ponto de vista da qualidade não é muito diferente. A adaptação será fácil. A recompensa, maior. Onde, porém, fica a vaidade nisso tudo? Luciano Huck já ganhou dinheiro para a eternidade. Só lhe falta satisfazer o ego com algo improvável. Vamos imaginar cenários: Huck e Bolsonaro num segundo turno? Huck e Haddad? Huck e Lula? Ou a nova elegibilidade de Lula adia o sonho de Huck?

      Fico imaginando Huck num debate com, digamos, Ciro Gomes sobre economia. Ele certamente arrumará o seu “posto Ipiranga”. Os debates brasileiros são tão bem enquadrados por regras feitas pelos próprios políticos, exclusivamente em favor deles, que qualquer um com dois neurônios pode se safar. Mesmo assim, tendo a temer pelas costas de Huck. Confesso que Huck para mim é um mistério. Não vejo nele o menor sinal de carisma. Chacrinha tinha carisma. Depois dele, vivemos a era dos apresentadores de televisão sem carisma. A força do veículo basta. Imagino que o próximo a lançar a sua pretensão de candidatura à presidência da República seja Tiago Leifert. Em matéria de falta de carisma ninguém o bate. Ou algum gaúcho tentará antes que ele?


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