Por que Moro não quer ouvir Tacla Durán?

Por que Moro não quer ouvir Tacla Durán?

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Rodrigo Tacla Durán é advogado. Trabalhou para a Odebrecht. Refugiou-se na Espanha. Vive querendo falar para a justiça brasileira. A força-tarefa de Curitiba não quer. Por quê? Há dois dias, Tacla Durán foi ouvido na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. A grande mídia carioca e paulista praticamente ignorou o seu depoimento. Saiu alguma coisa. Mínima. O que tem Durán a dizer que incomoda tanto? O Jornal Nacional, da Rede Globo, preferiu falar da ararinha azul. Não poderia ter esperado um dia a mais? O que tem aí?

Durán disparou contra o homem Sérgio Moro: “O dr. Moro me ofendeu em rede nacional, ao vivo, me prejulgou e me condenou. Ele feriu a Lei da Magistratura também por não me ouvir como testemunha do presidente Lula”. Cada declaração parecia calibrada para produzir um efeito: “Desde 2016, quando me apresentei à força-tarefa da Lava Jato para dizer que era advogado da Odebrecht, sou tratado como criminoso. Nunca apresentaram provas contra mim. Aqui na Espanha já arquivaram acusações contra mim por falta de provas”. Mais: “A operação Lava Jato se tornou um polo de poder político capaz de moer reputações, de destruir empresas e instituições. Digo isso com tranquilidade, pois jamais fui filiado ou militei em qualquer partido político”. E daí? Qual é o gato que nessa tuba?

Acusado de lavagem de dinheiro e recebimento de propina como integrante do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, Tacla Durán chegou a conhecer uma cela espanhola a pedido de Moro. Saiu. Tem dupla nacionalidade. A Espanha negou a sua extradição. O que ele teria a dizer que a justiça brasileira não quer ouvir? Que haveria uma indústria da delação. No seu lance mais ousado, afirmou que um amigo e padrinho de casamento de Sérgio Moro, Carlos Zucolotto, teria cobrado um PF, "por fora", para “melhorar" os resultados de uma delação com os procuradores da turma de Deltan Dallagnol. Os procuradores e Sérgio Moro ficaram pês da vida com tais insinuações.

Disposto a jogar lama no ventilador, Tacla Durán prepara um livro. Ele tenta ligar a mulher de Moro a Zucolotto. Ampara-se numa conversa por um aplicativo, o Wickr, para sustentar que Zucolotto teria agido para intermediar a redução da multa. O rolo é grande. Para uns, Tacla Durán é um larápio que tenta manchar a reputação dos homens da Lava Jato. Para outros, um arquivo vivo que estraga a narrativa anticorrupção sustentada pela mídia brasileira contra o PT. O procurador do MP Nicolau Dino foi categórico: “não se verifica pertinência temática e específica sobre o objeto da ação em apreço (...) Vale dizer, ainda que possa realmente haver falsidade nos documentos, suas declarações não se mostram relevantes para o deslinde da causa penal ou da própria falsidade arguida pelo recorrente”.

Os blogues de esquerda juram que o homem tem muito a dizer e que pode derrubar a casa da Lava Jato se for ouvido a fundo. O Brasil tornou-se um país pendurado nas palavras de suspeitos. Curiosamente Moro declarou que não se pode confiar em alguém como Durán. Este sugere que é fundamental descobrir o “lado obscuro” do famoso juiz.

Ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo.

É proibido produzir provas e denúncias contra a Lava Jato?

 

 

 

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