Porte de armas, correlações e ideologias
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Existem países com muitas armas nas mãos das pessoas e baixa violência. A Suécia é um exemplo disso. Existem países com poucas armas nas mãos das pessoas e baixa violência. O Japão proíbe armas e tem 0,3 homicídios por cem mil habitantes/ano. Conclusão: armas não produzem necessariamente violência. Nem necessariamente a inibem. O que produz? Basta dar uma olhada nos países mais violentos do mundo para se ter uma ideia. O que eles possuem em comum além da violência? Alto nível de desigualdade. Honduras costuma figurar como o país mais violento do mundo: 92,7 homicídios por cem mil habitantes/ano. A miséria atinge 70% das pessoas. Belize também é do pelotão da frente.
Nesse pequeno país da América Central a taxa de assassinatos por cem mil habitantes/ano não baixa de 40. Sem ser o país mais pobre, Belize tem uma das mais altas taxas de pobreza extrema da sua região. O porte de armas é legal em Honduras. Uma correlação surge: violência e desigualdade. Velha conhecida. Quanto mais desigual for uma sociedade e mais armas estiverem disponíveis, mais violência haverá. A lista dos campeões de violência anda, como quase sempre, assim: Honduras, El Salvador, Venezuela, Colômbia, Belize, Guatemala, Jamaica e Trinidad e Tobago... O que eles compartilham? Desigualdade. Não é a pobreza que pega antes de tudo. É a distribuição desigual da riqueza.
Quantos países têm alto grau de desigualdade e baixo índice de violência? A ideia de que armar todo mundo produzirá um efeito dissuasivo nos criminosos talvez esconda uma utopia conservadora radical: diminuir a violência sem precisar diminuir a desigualdade. Ficar com anéis sem perder os dedos. O resultado mais imediato desse projeto existencial e político é a vida em fortalezas urbanas como shoppings e condomínios fechados. A baixa violência em países armados não é o fruto da cultura e da educação como se diz. Essa ideia sugere que uma boa doutrinação gera cidadãos corretos e dispostos a aceitar a sua condição social dentro da legalidade mesmo sem vislumbrar perspectivas de melhora. A educação, a cultura e a baixa violência são o produto de políticas públicas de redução da desigualdade. É isso.
Correlações. O Brasil precisa melhorar as suas polícias, aperfeiçoar o sistema prisional, asfixiar a corrupção. Nada derrubará a violência se continuarmos campeões de desigualdade. É tão claro que parece falso. Pronto, falei.