Porto Alegre, 247 anos

Porto Alegre, 247 anos

Um poema de amor à capital gaúcha

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Eu já te vi, Porto Alegre, ao cair da tarde

Com o sol enrubescendo as águas do teu rio,

Que não é rio, mas flui até o mar.

Essa língua laranja ainda arde

Enquanto te vejo, cidade, passar

Alguns dias transida de frio

Outros, dourada, pela rua da Praia,

Que não tem praia, mas leva ao sol

Onde cada corpo como que desmaia

Entregue às brisas vindas de um arrebol.

Eu já te vi amanhecer clareando edifícios

Revelando em cada rua mil artifícios

Dessa beleza confessada aos que te amam

Só mostrada aos que todos os dias clamam

Por ver um pouco mais dos teus segredos

Nós, teus amantes, que deixamos os medos

E vamos te descobrir nos teus recantos,

Bares, praças, templos, cabarés, estádios,

Em que se despem esses eternos encantos,

Como um gol, como os ipês floridos

Amigos que voltam depois de anos sumidos,

Gaúchos pilchados, gurias nos seus ginásios,

A praça do general com seu apelido

A rua do marechal já esquecido

O beco de algum herói nunca vencido

Alto da Bronze dos anos de carmim

Velhas casas com pátio e jasmim

Glória, Cidade Baixa, Bom Fim.

Terra de Grêmio e Internacional,

Gigantes azuis e vermelhos,

Que nos servem de espelhos

Enquanto regamos tuas flores

E honramos as tuas cores

Com nossa límpida devoção.

Eu já te vi anoitecer no carnaval

Iluminando estátuas de poetas

Apagando o bem, o medo, o mal

Para nos consumir nas tuas festas.

Até o dia nos receber nos seus braços

Cobrindo de indulgência nossos passos,

Cidade sinuosa na qual me acho

Desde que em ti para sempre me perdi.

 

 


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