Privatização da Corsan

Privatização da Corsan

Governo quer fugir do plebiscito

O procedimento foi protocolado pelo Sindicato dos Engenheiros no Rio Grande do Sul (Senge-RS)

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      Eduardo Leite não é o único. Quase todo candidato faz promessas que, eleito, não cumpre. O governador gaúcho prometeu não privatizar a Corsan, que oferece serviços de saneamento a 317 municípios gaúchos, mas vai fazê-lo. Todo mundo tem direito de mudar de opinião e até de tentar passar a boiada durante a pandemia. O que realmente chama a atenção é a forma de fazer o negócio. A regra do jogo exige que a venda seja aprovada em plebiscito. Tranquilo. É só consultar a população. Aí é que o bicho pega. O governador quer dar o drible da vaca: aprovar uma emenda constitucional na Assembleia Legislativa para escapar do voto do cidadão. Esse tipo de manobra não poderia valer.

      Seria mais correto fazer um plebiscito para saber se a população quer o fim do plebiscito. Os argumentos contrários serão os de sempre: falta de tempo, custo de uma consulta à população, urgência de tomar providências e retórica: se o parlamento teve legitimidade para aprovar plebiscito, tem para revogar. A justificava para evitar o plebiscito contém a ideia de que a população não está suficientemente informada para decidir. Se for assim como pode a população decidir sobre a eleição de governadores, presidentes, deputados, senadores?

Se o governador prometeu não privatizar a Corsan e mudou de ideia, por que o mesmo não aconteceria com o Banrisul? Para um socialdemocrata, amante da democracia, Eduardo Leite deu uma declaração, no mínimo, contraditória: “O plebiscito não parece ser oportuno, porque chama 11,5 milhões de gaúchos que não estão apropriados de todas as informações dos balancetes, da complexidade do novo marco, para tomar uma decisão. Parece mais apropriado que esta decisão seja tomada pelos deputados, que receberam uma delegação de competência dos cidadãos para, de posse dos dados, decidir. Os deputados são inclusive remunerados para isso”. É só fornecer as informações à população antes da votação. Ou o povo não tem capacidade intelectual para compreender assunto de tanta “complexidade”?

      Em outros tempos a manifestação do governador seria chamada de elitista. Um exagerado falaria em despotismo esclarecido pós-moderno ou algo parecido. Um pragmático realista ou cínico dirá que nada há de novo no front. Apenas mais um político não cumprindo o que prometeu e tentando ganhar pelo caminho mais curto. Em política o que conta é ter maioria no parlamento. O resto é jogo de cena, discurso e ocasião.

      A política pode ser um subterrâneo de impurezas. Recebi de uma fonte áudios atribuídos a Roberto Jefferson, chefão nacional do PTB, detonando o governador Eduardo Leite e os próprios parceiros de partido no Rio Grande do Sul, entre os quais o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior e Luís Augusto Lara. Uma bronca cheia de cobras, lagartos, insultos por causa do apoio de petebistas a restrições ao funcionamento da economia. O cacique fala em cargos, manda os novos desafetos caírem fora, afirma que devem ir para o PSDB, que associa ao comunismo. FHC teria fundado o Foro de São Paulo com Lula, sendo uma derivação distante dos “fabianos” da revolução russa. Alucinante.


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