Quem não tem medo do Alzheimer?
A doença que rouba a memória
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Somos também o que as doenças fazem de nós e o como as sociedades agem diante de grandes problemas. Há um mal que nos atormenta e continua exigindo pesquisa: o Alzheimer. Setembro é o mês mundial destinado à sensibilização sobre a questão. Leandro Minozzo, médico e professor da Feevale, tem três livros sobre o assunto: “Como enfrentar a doença de Alzheimer e outras demências: um guia para a construção de políticas públicas no Brasil”, “Doença de Alzheimer: como se prevenir” e “O Estresse do cuidador de pacientes com Alzheimer”. Tenho muito medo de vir a sofrer de Alzheimer. Dizem que pessoas com hábitos de leitura e certa atividade intelectual estão mais protegidos. Fico seriamente em dúvida. O grande Gabriel García Márquez não foi poupado. Por que os pequenos seriam? A questão, claro, não é essa, mas como minorar o sofrimento dos doentes e cuidar deles.
Minozzo abre o primeiro capítulo do seu livro sobre como se prevenir contra o Alzheimer com algumas perguntas inquietantes: “Qual a doença que mais causa medo nas pessoas? Você já parou para pensar nisso? Seria morrer de um ataque cardíaco fulminante? Ou sofrendo com uma dor excruciante ou com intensa falta de ar? Seria a AIDS? O câncer? Qual delas? Segundo uma pesquisa recente realizada na França, o câncer é a doença que mais causa medo nas pessoas. Isso porque mesmo sabendo da evolução em se conseguir detectar diversas formas de tumores em fases iniciais e com o avanço no tratamento, o câncer ainda carrega consigo um estigma amedrontador nas pessoas. E qual seria a segunda colocada? Entre centenas de doenças possíveis, a segunda doença que mais causa medo nas pessoas é justamente a doença de Alzheimer”. Por que a tememos tanto? Porque parece provável?
No Brasil seriam cerca de um milhão e duzentas mil pessoas com Alzheimer. Parece baixo em relação ao total da população. A passagem do tempo, porém, coloca quase tudo mundo face ao questionamento interior: vai acontecer comigo? Estou fazendo algo errado? Tenho como evitar que o Alzheimer me pegue? Minozzo explica: “Nas palestras tento deixar bem claro o paralelo entre a doença de Alzheimer e as doenças coronarianas (aquelas causadas pelo entupimento das artérias coronárias no coração, que causam infarto ou insuficiência cardíaca). Todos sabemos que as doenças do coração são resultado do estilo de vida inadequado, como excesso de peso, alimentação inadequada rica em açúcar e gorduras maléficas, tabagismo e estresse. Surpreendentemente, o que muitos não sabem é que o mesmo acontece com a doença de Alzheimer – ela é também uma doença do estilo de vida. Cada vez mais pesquisas comprovam que tudo o que faz mal ao coração também faz mal ao cérebro, causando alterações típicas da doença de Alzheimer”.
Há quem pense que se trata de uma loteria. Um dia, a doença de cada um se declara. O Alzheimer ainda parece um enigma. Pode-se, no entanto, saber sobre ele o suficiente para enfrentá-lo em condições menos adversas. O medo não pode levar à paralisação que já adoece.
