Saulo Ramos e Celso de Mello conversam

Saulo Ramos e Celso de Mello conversam

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Josias de Souza, colunista do UOL/Folha de S. Paulo, o jornal que emprestava seus carros para a ditadura militar transportar prisioneiros políticos a caminho da tortura, resolveu insultar o ministro Celso de Mello, depois que ele votou pelos embargos infringentes, recorrendo a uma história que circula na internet há mais de uma semana e que foi desmentida pelo site Consultor Jurídico e republicada aqui. Como o objetivo de Josias era chamar Mello de "juiz de merda" o desmentido, a partir de pesquisa na própria Folha, não teve importância. O leitor pode rever aqui como se deu a história.

1) Esta conversa circula na internet.

Diálogo extraído do livro "Código da Vida", do jurista Saulo Ramos (falecido), entre o autor e o ministro Celso de Mello, do  Supremo Tribunal Federal - STF, que nunca se pronunciou a respeito desse assunto.


"Apressou-se ele próprio a me telefonar, explicando:



- Doutor Saulo, o senhor deve ter estranhado o meu voto no caso do Presidente.



- Claro, o que deu em você ?



-É que a F. de São Paulo, na véspera da votação, noticiou a afirmação de que o Presidente Sarney tinha os votos certos dos ministros que enumerou e citou meu nome como um deles.

Quando chegou minha vez de votar, o Presidente já estava vitorioso pelo número de votos a seu favor.

Não precisava mais do meu.

Votei contra para desmentir a F. de São Paulo.

Mas fique tranquilo.

Se meu voto fosse decisivo, eu teria votado a favor do Presidente.



Não acreditei no que estava ouvindo.

Recusei-me a engolir e perguntei:



- Espere um pouco.

Deixe-me ver se compreendi bem.

Você votou contra o Sarney porque a F. de São Paulo noticiou que você votaria a favor?



- Sim.



- E se o Sarney já não houvesse ganhado, quando chegou sua vez de votar, você, nesse caso, votaria a favor dele?



- Exatamente.

O senhor me entendeu?



- Entendi.

Entendi que você é um juiz de merda!



Bati o telefone e nunca mais falei comum ele".



Obs.:

Celso de Mello,  promotor de justiça do Estado de São Paulo, foi nomeado ministro do STF pelo presidente da República José Sarney, por indicação do advogado Saulo Ramos , então ministro da Justiça."

*

2) Márcio Chaer, em O  Consultor Jurídico, corrige os relatos de Saulo Ramos caracterizando-se como dado a inventar versões fantasiosas:

"Ele faz revelações espantosas: teria sido Fidel Castro quem preparou a morte de Che Guevara na Bolívia — ao mandar ao encontro do guerrilheiro uma mulher que, Fidel sabia, estava sendo perseguida pela CIA. Outra: Luís Carlos Prestes, para não ser preso, teria barganhado com a política a entrega de suas famosas cadernetas que acabaram por fundamentar o inquérito que indiciou 74 pessoas e que levou à condenação de 54 na primeira instância da Justiça Militar, em junho de 1966. Outro furo internacional: na briga com a Petrobras, Evo Morales, da Bolívia, "não afinou por temor ao governo brasileiro, mas porque os traficantes do Rio de Janeiro ameaçaram importar somente cocaína da Colômbia"."

Diz mais: "Saulo, conhecido como o Spielberg da advocacia, inicia sua obra contando uma glória pessoal: como fez para enganar um policial rodoviário que o flagrou falando ao celular, enquanto dirigia a 100 quilômetros por hora na Via Anhangüera. É a primeira das muitas passagens em que o advogado se vangloria de ter ludibriado pessoas e a ética. Fica apenas uma dúvida. O episódio teria ocorrido na década de 80. Os telefones celulares só chegaram em São Paulo em 1993."

Por fim, a tal conversa entre Saulo e Celso de Mello:

"Os trechos mais perversos do panegírico que Saulo escreveu em sua homenagem são os que mencionam o ministro do Supremo Tribunal Federal, José Celso de Mello Filho. O advogado diz que, quando se ia examinar a validade do domicílio eleitoral de José Sarney no Amapá, Celso de Mello teria telefonado para avisar que só se encontravam no STF ele e o ministro Marco Aurélio. E que seria arriscado entrar com o pedido, já que Marco Aurélio, por ser primo de Collor, poderia complicar as coisas para Sarney. Na vida real, os onze ministros do STF encontravam-se na Corte naquele dia, conforme atesta a própria Ata de Distribuição de processos. Mas o fato é que o pedido caiu nas mãos de Marco Aurélio, que deu a liminar em favor de Sarney. E relata Saulo: "Veio o dia do julgamento do mérito pelo plenário. Sarney ganhou, mas o último a votar foi o ministro Celso de Mello, que votou pela cassação da candidatura de Sarney".  Corria o ano de 1990. No dia seguinte, Celso de Mello, na versão de Saulo, teria lhe explicado que "quando chegou minha vez, o presidente já estava vitorioso pelo número de votos a seu favor. Não precisava mais do meu". A explicação atribuída ao ministro foi que seu voto contrário se devia a uma notícia da Folha de S.Paulo, informando que Celso de Mello votaria a favor do presidente que o nomeou para o STF. Pela narrativa de Saulo, ele teria dito um palavrão ao ministro, batido o telefone e nunca mais falado com ele, certamente inconformado com a absoluta independência e integridade que o ministro Celso sempre demonstrou no exercício de sua função, como é notório e reconhecido pela comunidade jurídica do país".

Detalhe saboroso apresentado por Chaer: "Correções ao livro: os arquivos da Folha não mostram a tal notícia. Saulo Ramos, na própria publicação, cita outros diálogos posteriores com o ministro — sempre para ofendê-lo gratuitamente — sem contar que compareceu à posse de Celso quando este assumiu a Presidência do Supremo, em 1997".

A chapa esquentou!


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