Todos de máscara

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Posse de Joe Biden foi exemplar

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Joe Biden precisaria de meia hora de governo, depois da posse, para fazer mais bem ao mundo do que Donald Trump em quatro anos. Os seus decretos devolvem os Estados Unidos ao estágio da civilização depois de um período de barbárie. O novo presidente americano reintegrou o país no Acordo de Paris para o Clima. Mensagem clara: poluir menos, preocupar-se com o aquecimento global intensificado por ações humanas e levar a ciência a sério. Trump deve estar babando de raiva. Antes de escafeder-se, o republicano indultou o seu comparsa Steve Bannon. O que isso significa? No apagar das suas poucas luzes, Trump perdoou o cúmplice pelos crimes que cometeu e pelos quais não será julgado. Crimes praticados para ajudar Trump a ferrar o mundo.

Enquanto Trump desaparecia melancolicamente como um fantasma choroso, Biden brilhava discursando. Os decretos previstos interrompem a construção do muro da vergonha, na fronteira com o México, recolocam os Estados Unidos na Organização Mundial da Saúde, interrompem a separação de familiares imigrantes, determinam o uso obrigatório de máscaras de proteção contra a Covid em ambientes sob jurisdição federal, liquidam o veto à entrada de pessoas oriundas de países majoritariamente muçulmanos nos Estados Unidos, acabam com a interdição de acesso ao serviço militar a transgêneros, desbloquear ajuda federal para mulheres que praticaram aborto e suspendem temporariamente ordens de despejo. Reconstruir exige método e pressa.

Joe Biden já homenageou mais as vítimas do coronavírus do que Trump ao longo de todo o tempo em que viu a Covid ceifar vidas. Os estragos do trumpismo foram tão grandes que qualquer ação de Biden será brilhante. Se um apostou no obscurantismo e na ignorância, ao outro cabe defender a ciência e o iluminismo. Não tem como errar. Um hífen separa Trump de Biden. O primeiro agora assina ex-presidente. Não alcançou o segundo mandato que a história tem reservado até aos medíocres. Mas não aos bárbaros. Outra aposta de Biden já no começo do governo será formatar um plano para buscar cem por cento de energia limpa até 2050. A energia fóssil está com os dias contados nos Estados Unidos e na Europa. Salvo se Trump voltar dentro de quatro anos para assombrar o planeta. A primeira grande mudança visível foi de estilo.

Terminou a fase bronca, com tiradas grosseiras e vulgares a todo momento, e começou uma etapa de boa educação e civilidade. O discurso de Biden falou de união, de amor, de governar para todos e de prevalecimento da democracia. Sem arroubos retóricos, defendeu pluralismo e tolerância. Alterou-se o paradigma. Da fala rude à fala mansa, do prazer em ser cruel ao desejo de tolerância, do belicismo à paz. Baixou o tom. A posse aconteceu sob emoção. As mentiras de Trump ainda ressoavam. Nunca na história um homem todo-poderoso mentiu tanto em tão pouco tempo. O radicalismo do republicano deixou marcas. Ele esticou a corda até ser enforcado por ela. Vai continuar provocando, semeando ódio para tentar colher poder dentro de algum tempo. Biden fará um grande governo? Não se sabe. Dificilmente alguém poderá fazer pior do que Donald Trump. Já é meio caminho andado. Direitos humanos e meio ambiente estarão no centro das políticas de Biden. Tem jogo.

Na posse de Biden todos usavam máscaras.


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