Um desejo de fim de ano

Um desejo de fim de ano

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Fim de ano, tempo de sonhar.

Especialmente com o impossível.

O Brasil é o país das coligações O eleitor nem sempre entende bem. Tem coligação nas proporcionais. Partidos se aliam com seus opostos em busca de alguns segundos de televisão. É toma-lá-dá-cá. A coligação mais rentável e mais proporcional do Brasil é a do Paulinho, o Paulo Roberto Costa da Petrobras. Tem PT, PMDB, PSB, PSDB e PP. A cada um conforme a sua proporção no bolo político nacional. É um dos raros casos em que PSDB e PT aparecem do mesmo lado, o lado obscuro das operações ilícitas, das propinas e dos acordos sombrios.

É por isso que eu defendo o fim das coligações. Especialmente das coligações de empresas estatais com empreiteiras e partidos políticos. É meu desejo de fim de ano. Sei que tem poucas chances de se realizar. Paulo Roberto Costa, chamado carinhosamente de Paulinho por Lula (ou novamente Lulla?), é um gênio de articulação política. Conseguiu botar no mesmo saco gente de ideologias tão diferentes. Deve ser a prova de que o pragmatismo impera. Tem o pragmatismo baiano da Odebrecht e da OAS, o pragmatismo pernambucano da Queiroz Galvão, o pragmatismo paulista da Camargo Correa e da Engevix, o pragmatismo de todo mundo que faz bons negócios com o Estado.

O brasileiro até gosta disso. Não sabe mais viver sem corrupção. Ama e reelege Paulo Maluf. Conta com o Tribunal Superior Eleitoral para dar ficha limpa ao eterno “rouba, mas faz”. O brasileiro acompanha a roubalheira como quem segue novela. Vibra com cada capítulo mais delirante. Brasileiro gosta de breguice, de político malandro, de música sertaneja e de telenovela barata. Uma coisa tem a ver com a outra. É impossível fazer uma reforma política vendo novela ruim, ouvindo sertanejo universitário, acreditando em promessa de candidato e servindo sem perspectivas os novos e os velhos ricos da Barra da Tijuca e dos jardins pomposos paulistanos.

O ditador Costa e Silva, que era louco, entre outras coisas, por um bom nepotismo, reservou o mercado brasileiro, por decreto, para empreiteiras nacionais. Empresas de fundo de quintal viraram conglomerados. O tucanato de FHC e o petismo de Lula e Dilma acrescentaram a cereja sobre o bolo das construtoras. Entregaram anéis, dedos, mãos, pés e contratos. Entre a ditadura e a nova democracia há uma ponte (não só a Rio-Niterói superfaturada) de negócios feitos por baixo dos panos e por cima dos custos normais. Onde há fumaça, há empreiteiras, políticos e segredos de Estado.

Felizmente o ano termina com uma revelação, uma notícia capaz de inocular otimismo e verdade na mente de cada brasileiro. José Sarney, ao se despedir do Congresso Nacional, que poluía desde 1955, fez a declaração mais ousada da sua longa carreira política: “O Maranhão é de vanguarda”. Prontamente o Maranhão respondeu concedendo, por decreto, a Roseana, filha dileta do patriarca, aposentadoria vitalícia pelos serviços prestados ao vanguardismo maranhense. Roseana já tinha polpuda aposentadoria como funcionária do Senado. Tudo é coligação. Paulinho Costa teve grandes mestres. No Brasil, quem não se coliga fica a ver navios. Sem poder construí-los.

O negócio é fazer negócios. A lei é uma só: dar e receber. À jato.

Se tudo der errado, a Petrobras paga os fornecedores das empreiteiras.

 

 

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