Um Gre-Nal de faca na bota

Um Gre-Nal de faca na bota

Grêmio mereceu levar o título

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Futebol é paixão e razão. O Campeonato Gaúcho divide. Há quem o ame e quem deseje o seu fim.

Eu gosto do Gauchão com todos os seus defeitos, que são os mesmos da maioria dos campeonatos nacionais europeus. Dois gigantes, muitos pequenos, hegemonia dos grandes. Quando um pequeno vence, vibramos com o inusitado. Quando termina em Gre-Nal, reforçamos nossa rivalidade.

O Espanhol não passa mesmo de um Gauchão com grife. O inglês é um Paulistão milionário.

O Gauchão é o que somos. Deu Gre-Nal. O Grêmio mereceu levar. Jogou mais e melhor. Mesmo assim, os dois clássicos terminaram empaatados. A arbitragem sorriu mais para os tricolores. No primeiro jogo, o professor Portaluppi e o centroavante André deveriam ter sido expulsos.

Renato apitou. No segundo, D'Alessandro foi expulso sem entrar em campo.

E aí chego ao ponto principal. Poucas vezes o Inter foi tão covarde num Gre-Nal. Parecia time pequeno. Ficou encolhido esperando matar num contra-ataque que não se configurou.

Odair Hellmann é um neotático fundamenalista dissimulado. Finge uma coisa, mas é outra. Sempre que pode, saca D'Alessandro para colocar no seu lugar um brucutu capaz de fazer correria. Neotáticos odeiam o meio-campista clássico. Amam força e velocidade. Dos três melhores jogadores habilidosos do Inter, D'Alessandro, Sarrafiore e Nico Lopes, só Nico jogou. D'Alessandro foi sacrificado por Potker e Parede. Sarrafiore é reserva do reserva do reserva.

Foi vergonhosa a atuação ofensiva do Inter. O colorado apequenou-se. Parecia estar diante do Barcelona ou do Real Madrid. Tomou cuidados infinitos. Nada arriscou. Enquanto os europeus se jogam ao ataque e terminam seus jogos em 4 a 3, os brasileiros perderam a ousadia e não fazem um gol em 180 minutos. O Inter praticou o maior retrancão de todos os tempos num Gre-Nal.

O paredão colorado era o muro da Mauá contra uma enchete que não veio.

Terminou nos pênaltis. Uma enxurrada de incompetência.

O enquadramento de corpo de Nico foi a crônica de um pênalti fadado ao erro.

Acontece. O Gre-Nal, apesar disso tudo, foi exuberante: tenso, brigado, sofrido.

Gauchão não tem valor? Por que entãos gremistas choravam, cantavam, riam, pulavam e exultava ao final? Por que os colorados se acabruhavam? Nas imagens da televisão, marmanjos derramavam lágrimas. Rojões sacudiam a cidade. O Gauchão vale ouro.

É maravilhoso na sua imperfeição.

Eu prefiro um Gre-Nal do Gauchão a qualquer final da Liga dos Campeões.


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