Vida significativa

Vida significativa

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Que rumo dar à vida? O leitor já pode desistir. O tema é árido. Ah, se o Pokémon go estivesse disponível! Muita gente já gastou sua inteligência pensando no sentido da vida. O filósofo Kierkegaard entendia que a vida autêntica era aquela dedicada à religião. Nas morais do sacrifício, teológica ou laica, conforme a definição de Gilles Lipovetsky, cada um deveria apenas cumprir as seus deveres. Vivemos, contudo, num tempo em que a felicidade é um direito e uma obsessão. Como fazer para ser feliz ou para não ter uma vida vazia e sem sentido? Alguns, encontram sentido absoluto no consumo. Outros, na busca pela fama. Outros, ainda, no encontro entre fama e consumo.

Há quem entre na política para tornar a vida significativa, pois se trata de um jogo que dá a sensação de utilidade social e de ter poder. A pessoa sente-se importante e ocupada. Sou adepto da teoria de que quase tudo o que fazemos encobre a necessidade de terapia ocupacional e do que Michel Maffesoli chama de satisfação na convivência, esse estar-junto que torna a vida significativa. A depressão é a doença de muitos que não conseguem dar significado à vida. Em outros casos, creio eu, é o doloroso produto de uma disfunção cerebral ou da pouca produção de substâncias como a serotonina. O ser humano é um problema. Passa a vida tentando saber de onde vem e para onde vai. Quando pensa que vai entender, termina.

Por que alguém se associa a um clube de futebol? Por que uma pessoa se torna participante ativo de um CTG? Por que se entra na maçonaria? Para mim, pelo desejo de ocupar o tempo junto com outros e de sentir esse prazer da comunhão grupal que torna a vida menos vazia e, muitas vezes, plenamente significativa. O ser humano em geral não suporta a carreira solo. Precisa dividir, estar com outros, vibrar em comunidade. Por quê? Sei lá. Faz parte do nosso mistério. Por que estou falando disso agora? Por que me pergunto: a minha vida é significativa? Onde encontro a satisfação que me faz continuar?

A arte e o esporte também servem para tornar significativas as vidas dos envolvidos. Uma leitura depressiva dos jogos olímpicos trataria as disputas com excesso sombrio de lucidez: para que serve saltar mais longe do que todo mundo? Para que serve correr mais rápido do que os outros? Por que passar a vida treinando loucamente para jogar um objeto mais longe do que os demais? Por que é glorioso remar mais rápido do que os concorrentes? Muito se critica o entretenimento industrializado. Faz sentido. A distração, porém, tem uma função social importante. Ela ocupa o tempo que nos apavora.

Tenho dito que o grande problema contemporâneo é o tempo. O que fazer do nosso tempo livre? Está me sobrando meia hora. Com licença que vou pintar um livro de colorir e já volto. Quero ter uma vida significativa. Por vezes, estou certo do caminho. Em outros, hesito. O trabalho cumpre essa função para muita gente. Daí o estrago causado pela aposentadoria. A vida é curta. Os dias é que podem ser longos.

 

     

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