Weber e o professor em sala de aula

Weber e o professor em sala de aula

Sociólogo pregava a neutralidade para proteger alunos condenados ao silêncio

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      O alemão Max Weber é um dos pais da sociologia. Ele morreu em 1920. Tem muitos textos famosos. O mais conhecido certamente é “A lógica protestante e o espírito do capitalismo”. Erudito, Weber passou a vida lecionando, lendo e escrevendo. Sofreu com a depressão. Estudou como poucos o processo de racionalização e burocratização do mundo moderno. Uma obra fundamental dele é “O cientista e o político”, publicada no Brasil como “Ciência e política: duas vocações”. São duas palestras que proferiu. Eu volto a esses artigos sempre que não tem jogo de futebol na televisão. Em ano eleitoral, é leitura obrigatória.

      No longínquo começo do século XX, quando não havia nem rádio e televisão, Weber abordava os assuntos que estão na pauta ainda hoje. A conferência “ciência como vocação” pode ser vista como a primeira grande defesa da “escola sem partido”? Escreveu Weber: “A um professor é imperdoável valer-se de tal situação para buscar incutir, em seus discípulos, as suas próprias concepções políticas, em vez de lhes ser útil, como é de seu dever, por meio da transmissão de conhecimentos e de experiência científica”. Há que se considerar o contexto. “Transmissão” era um termo central. A pedagogia atual vê o conhecimento como construção. Além disso, a sala de aula da época era outra.

Basta tirar a conclusão do que o próprio Weber diz com certa ênfase: “Tanto ao profeta como ao demagogo caber dizer: ‘Vá à rua e fale em público’, o que vale dizer que ele fale em lugar onde possa ser criticado. Numa sala de aula, enfrenta-se o auditório de maneira inteiramente diversa: o professor tem a palavra, mas os estudantes estão condenados ao silêncio”. Essa sala de aula não existe mais ou é exceção. A interatividade é a regra absoluta agora e o será ainda mais no futuro próximo. Weber falava de sala de aula universitária. Pode-se, contudo, imaginar um ensino médio de alunos “condenados ao silêncio”?

Max Weber defendia que se frustrasse certa demanda da juventude: a procura por um líder no professor: “De cem professores, noventa e nove não têm e não devem ter a pretensão de ser campeões do futebol da vida, nem ‘orientadores’ no que diz respeito às questões que concernem à conduta da vida”. O velho mestre queria um docente capaz de conter suas inclinações pessoais diante do aluno. Se o professor, sustentava, “se julga chamado a participar das lutas entre concepções de mundo e entre opiniões de partidos, devo fazê-lo fora da sala de aula, deve fazê-lo em lugar público, ou seja, por meio de imprensa, em reuniões, em associações, onde queira”, pois, para Weber, é “demasiado cômodo exibir coragem num local em que os assistentes e, talvez, os oponentes, estão condenados ao silêncio”. Um precursor da escola sem partido?

Devagar com o andor. Max Weber era um defensor da ciência, que definia “como uma vocação alicerçada na especialização e posta ao serviço de uma tomada de consciência de nós mesmos e do conhecimento das relações objetivas”. Sem espaço algum para visionários e gurus.

 


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