Noites fantásticas de Nelson Rego

Autor lança sua primeira narrativa longa, "Noite-Égua",

nesta quinta-feira, às 19h30min, na Palavraria

 

Por Luiz Gonzaga Lopes

 

Ao final da leitura "Noite-Égua", a primeira incursão de Nelson Rego ("Daimon Junto à Porta", contos, 2011) pela narrativa longa, a primeira sensação que dá é de vazio. Explico que não é o vazio tradicional que se dá com a leitura de um best-seller. É um vazio em busca de complemento. A história do pesquisador e da sua namorada que buscam registros de assombro, do fantástico na biblioteca de um antigo edifício da Cidade Baixa e a consequente bifurcação no encontro com um suposto fantasma que assombra o local há 59 anos são elementos bastante interessantes no que se supõe o jogo da narrativa, apesar de não criarem a tensão necessária a este tipo de trama. Bom, antes de continuar a análise, preciso passar o serviço deste lançamento. "Noite-Égua" (Terceiro Selo, 96p., 2015) terá lançamento com sessão de autógrafos nesta quinta, dia 19/3, às 19h30min, na livraria que sedia mais atividades literárias - sempre de qualidade, por sinal - por semana da capital gaúcha, a Palavraria (Vasco da Gama, 165). O livro custa R$ 32,90.

 

Sigamos falando do livro, Nelson Rego é um estilista, professor da Ufrgs, colunista do site Sul 21 (o melhor site de política e cultura do RS e aqui vai um elogio ao orelhista/apresentador do livro, Milton Ribeiro). Da lavra de Milton Ribeiro na orelha, já identificamos aonde Rego pode chegar: "Jogo fascinante e grudento, "Noite-Égua" apresenta um tal cruzamento de histórias em temporalidades diferentes que corre o risco de resultar soberbo..". Pois então, o autor já havia comprovado a sua eficácia de construção frasal e estilo em "Daimon Junto à Porta" (Dublinense), vencedor do Prêmio Açorianos de Literatura na categoria Contos em 2011. Na minha opinião, um reparo a fazer é que na narrativa longa eu precisaria de um pouco mais de elementos na construção de cada personagem, pois o narrador/pesquisador e Sant´Ana, a matriarca da casa estão bem estruturados e os demais estão apresentados sem muitas raízes sólidas. Mas ratifico que algumas construções do texto do autor são primorosas como esta que grifo a seguir em que a matriarca Sant´Ana, em conversa com o pesquisador, compara o narrar em balbucio dos escritores com o diálogo com alguém de outro plano:

- Sabes, tenho feito isso que fazias ainda há pouco, observavas. Observo-te quando pensas que ninguém te olha. E adivinho que, em silêncio, conversas com alguém. Às vezes, quando estás muito concentrado, teus lábios quase se mexem. Pergunto-te, é como se estivesse a narrar os acontecimentos e teus pensamentos a alguém?

- Sim, às vezes faço isso, mania de escritor. Para a senhora, deve ser fácil perceber, pois também escreve. Gostaria de ler seus textos.

- Não escrevo nem jamais escrevi, mas não estás de todo errado, é como se escrevesse, narro meus pensamentos para alguém.

- Deus?

- Talvez. E tu? Para quem estás a narrar tuas observações?

- Para um ouvinte imaginário.

- Alguém em outro plano?

- Sim, alguém em outro plano, um observador de minhas observações.

- Imaginário? Um personagem ouvinte, quem sabe um leitor. criado por ti?

- No momento em que narro, sim, um observador criado por mim. Um amigo invisível. Escritores são adultos que não se conformam em deixar de ser criança.

- Um fantasma?

- Sei o que a senhora quer dizer. Para satisfazê-la digo sim, um fantasma...

 

Não vamos esquecer da sinopse para que os leitores entendam do que se trata o livro.  Em um antigo edifício na Cidade Baixa, em Porto Alegre, vive uma família excêntrica, comandada pela patriarca Sant´Ana. O prédio abriga um mistério, uma carta pode denunciar um crime, a morte suspeita de uma enfermeira. A carta teria sido escrita por um fantasma. O pesquisador que frequenta a biblioteca da casa e sua namorada passam a interagir com a família e os segredos vão sendo revelados, ao mesmo tempo em que a tensão sexual entre o escritor e a neta de Sant´Ana, Silvinha, tatuada, roqueira e indomável, começa a crescer, deixando a sua namorada Lara de olhos bem abertos. As histórias da velha, considerada louca, não parecem assim tão descabidas. Enfim, é um livro para ser lido e para que o leitor tire suas próprias conclusões. Quem puder, compareça nesta quinta à sessão na Palavraria e prestigie o autor Nelson Rego.

 

SERVIÇO

LANÇAMENTO DE NOITE-ÉGUA, com sessão de autógrafos do autor.

DATA E HORA:  19 de março de 2015 (quinta-feira), a partir das 19h30min

LOCAL: Palavraria (Rua Vasco da Gama, nº 165 – Bom Fim – Porto Alegre – RS).

PREÇO E DETALHES: R$ 32,90 (exemplar) / Romance / Formato: 14 x 21 cm / 96 páginas