Olhares a desnudar o cotidiano

Olhares a desnudar o cotidiano

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Rubem Penz por Phil Devries Cronista Rubem Penz em foto de Phil Devries


 

Escritor Rubem Penz autografa "Greve de Sexo", sua terceira compilação de crônicas, nesta quinta, 24, no Viva Open Mall, às 19h.

 

Por Luiz Gonzaga Lopes

 

Qual gênero literário que apresenta o olhar mais preciso e individual, ainda que represente o coletivo dos leitores, do que a crônica? Conforme Rubem Penz, cronista, professor do gênero, baterista, entre outras tantas habilidades é o gênero mais pessoal de todos os literários e jornalísticos: “Não há gênero literário em que se experimente maior exposição pessoal do que a crônica. Desvelar é o instrumento verbal do cronista para o cotidiano e a situações possíveis de vivência entre o nascimento e a morte ou entre a idade de leitura e escrita e a senilidade. Portanto, quando uma mulher nua é o elemento principal da capa da "Greve de Sexo e outras crônicas" (Editora Buqui, 2016), a terceira compilação de crônicas do autor, não pode haver estranheza ou pudicícia. No livro, estão 49 crônicas escolhidas entre os dois primeiros anos de sua coluna semanal “Crônicas de Botequim”, no jornal Metro. A sessão de autógrafos acontece nesta quinta, 24 de novembro, às 19h, defronte ao Positano Café, no Viva Open Mall (Av. Nilo Peçanha, 3228), em Porto Alegre.
Sobre crônica, já falaram dois amigos de Rubem Penz em uma mesa na Feira do Livro há dois anos: Humberto Werneck e Luís Henrique Pellanda, integrantes da coleção A Arte da Crônica, da Arquipélago.  Rubem estava presente à mesa. Werneck disse que o cronista mantém vivo o interesse do leitor, tal qual Sheherazade em "As Mil e uma Noites", a cada dia ou período tenta seduzir o leitor, mantendo-se vivo na publicação para a qual ele escreve. Pellanda disse que a melhor forma de ser cronista e escrever uma crônica é ter sua maneira de ler o mundo, ver o outro e o cotidiano das cidades e saber colocar de forma clara e por vezes lúdica no papel.

 

A nudez de Rubem Penz não é ultrajante ou digna de risos, como aquelas mulheres e travestis que começaram a caminhar por Porto Alegre para chamar a atenção a uma causa ou a nenhuma. O desvelamento de Penz é preciso, elaborado, tocante e coletivo. Tudo é incluído nestas 49 crônicas, desde uma dica aos homens que querem agradar as mulheres, em "A Sétima Vértebra Cervical" até, para mim, a melhor crônica do livro ou pelo menos a mais emocionante que se chama "Aos Amigos do Meu Pai". Explico a preferência. Ao introduzir a crônica, falando em quem passa a vida inteira órfão de pai vivo, o cronista lembra do próprio pai, de presença marcante, e o vê refletido nos amigos do seu progenitor: "Pode parecer lugar comum, mas, ao me deparar com os amigos do pai, nem precisamos evocar seu nome para trazê-lo à conversa. Sei que olham para mim com saudade dele e, no mesmo instante, sou herdeiro direto para o carinho. Sabem que olho para eles com o mesmo sentimento - em suas vidas reverbera a presença do meu bom pai". Como passar incólume, não ser tangenciado por este afeto crônica, que o tempo não apaga, que o cronos consegue ser o deus do encurtamento das distâncias, do tempo ad eternum. A crônica termina com Penz passando aos filhos, os reais, e também os filhos leitores a ideia de aqueles homens foram amigos do "avô de vocês". Há uma lágrima na ribanceira.

Capa

Ao longo das páginas, há as crônicas inspiradas em notícias de jornal. Um exemplar delas empresta o nome ao livro, graças a curiosa nota sobre uma "greve de sexo" das mulheres no Togo e as suas implicações no cotidiano vivido pelo cronista. Também há duas crônicas que vêm em sequência e que também são inspirados pelo dia a dia, uma pelo fantasioso e outro pelo real. A primeira é "Um Dia Depois dos Outros", no qual o cronista ironiza a publicidade e os carros que podem andar em alta velocidade e com sinais de trânsito que se abrem em sincronia ou em comercias de margarina no qual família comem juntas, sorrindo. A segunda crônica é "Estandarte do Sanatório Geral", no qual inspirado em "Vai Passar", de Chico Buarque, a nudez crônica de Rubem Penz analisa e avaliza os movimentos populares iniciados por 20 centavos de passagens de ônibus e que seguem resistindo aos desmandos dos governos que não ouvem o seu povo.

Além dos icônicos Antonio Maria, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga, Luis Fernando Verissimo é um dos seus grandes ídolos, o influenciador para que ele se tornasse cronista, fato que está evidenciado na homenagem "Uma Visita ao Analista de Bagé", no qual conversa com o mais famoso analista do RS e com a secretária Lindaura e compara Verissimo à Braga. Mas entre um mate e outro, o analista não perde tempo e pergunta ao personagem-narrador-cronista como era a relação dele com sua mãe"

Na apresentação, o jornalista Luiz Rivoiro define melhor do que este humilde crítico e blogueiro de literatura: "Greve de Sexo e outras crônicas não é livro de um escritor recluso, e sim obra de quem circula pela cidade. Mais do que circula, faz das ruas seu endereço comercial – a Santa Sede, sua oficina literária, acontece num botequim, lugar consagrado por Noel Rosa como sendo o escritório do malandro. Resulta, também, do atento ouvido de um músico a conduzir raciocínios sem perder o ritmo. E referenda um gênero que, de tão íntimo com o leitor, não traz pudores, e sim palavras nuas".

 

SERVIÇO:
O quê: Lançamento do livro Greve de Sexo e outras crônicas (Buqui, 2016), de Rubem Penz
Quando: dia 24 de novembro, das 19h às 21h
Onde: Defronte ao Positano Café, no Viva Open Mall, Av. Nilo Peçanha, 3228, Porto Alegre – com estacionamento no local
Preço: R$ 30,00

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