Para saber escrever

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Pedro Gonzaga e Jane Tutikian lançam "Escreva! - Guia de Escrita Criativa" nesta quarta, às 19h, na Palavraria

 


Por Luiz Gonzaga Lopes

 

"Para escrever bem, a primeira coisa do que se necessita é escutar bem. E isso, por sua vez, é algo que os escritores e leitores têm em comum." - A. Alvarez, A Voz do Escritor

Não existe uma fórmula para que alguém escreva bem. Existe o conjunto de referências e formação do leitor que deseja escrever concatenadas com uma série de fatores como a própria leitura, a escuta, a observação, a prática da escrita, o conhecimento acadêmico ou da própria vida, além de fatores tantos, dos quais o domínio da técnica narrativa, da escrita propriamente dita, parece ser o mais imperativo. Pensando neste aspecto, os escritores, oficineiros e acadêmicos das Letras, Pedro Gonzaga e Jane Tutikian resolveram compilar os ensinamentos possíveis sobre a concepção do texto de caráter criativo e narrativo, incluindo aí conto, romance, poema em prosa e miniconto. O resultado de dez anos de oficinas de escrita criativa de Pedro e Jane estão reunidos na obra "Escreva! - Guia de Escrita Criativa", de 184 páginas, que será lançada nesta quarta-feira, 22 de julho, pela editora Leitura XXI, às 19h, na Palavraria Livros & Cafés (Vasco da Gama, 165).

 



Na apresentação, Pedro Gonzaga já delineia a carta de intenção dos autores: "Tentamos organizar os assuntos por ordem de dificuldade, do básico ao avançado (ainda que não se deva pensar aqui como em um curso de idiomas, pois os elementos básicos por vezes são muito mais difíceis de usar na prática), sempre propondo exercícios que levem à utilização desses mesmos elementos, oferecendo, esperamos nós, a quem está começando a escrever - e mesmo a quem já está na estrada há algum tempo - soluções para os problemas técnicos, que são quase sempre os mesmos e que cedo ou tarde aparecem no caminho de quem compõe uma história". Mais adiante, Pedro acrescenta a instrumentalização como principal possibilidade da obra: "Acima de tudo, quisemos oferecer um conjunto de ferramentas práticas feitas para libertar, e não para restringir as infinitas possibilidades ficcionais".

 

Vamos à obra então. Dividida em duas partes, o guia tem, em sua primeira parte, os Elementos Fundamentais (nove capítulos) e, na segunda, as Técnicas Avançadas (12 capítulos). Na primeira parte, estão postos os Conceitos fundamentais, O narrador e suas funções, A história, Personagem, O espaço, O tempo, O diálogo, A história oculta (fundamento da prosa breve) e Contando a história (narração, descrição, digressão - e diálogo). Desta primeira parte, há muita coisa boa a se destacar, mas para não entregar todo o conteúdo da obra, grifo, por exemplo, as Ferramentas básicas da escrita, elencadas em três pelos professores de escrita criativa: A observação; A memória; A Fantasia. O narrador, a voz da história e que autores como Walter Benjamin e A. Alvarez (citado na epígrafe deste texto) se ocupam, é explicitado em seus quatro pontos de vista: Protagonista, Testemunha, Onisciente e Quase Onisciente, seguido de exemplos e exercícios. Só para citar um exemplo de Narrador-Protagonista, os autores lembram de Juan Pablo Castel, de "O Túnel", de Ernesto Sábato, o pintor que matou María Iribarne.



Na segunda parte, Técnicas Avançadas, estão dispostos os capítulos Aberturas, Título e nomes, Troca de narrador, Histórias dentro de histórias (caixa chinesa / mise-en-abîme), Metáforas, O narrador indigno de confiança, Os textos de gênero, A epifania, Falando de amor, A minificção, Os erros mais comuns da escrita criativa, O desfecho. Novamente o ferramental em relação ao narrador se destaca nesta segunda parte (mais por fixação deste que vos escreve). No capítulo "Troca de narrador", os autores do guia revelam a troca simples de voz de primeira para terceira pessoa (metamorfose), isto é, a revelação de uma voz diferente da imaginada inicialmente pelo leitor (exemplo: "Moby Dick", de Herman Melville) e o vice-versa ("A Peste", de Albert Camus). Múltiplos narradores e a mistura total de narradores (polifonia) são exemplificados e o exemplo mais bem acabado desta troca é o conto "Axolotes", de Julio Florencio Cortázar.



Há muitos capítulos interessantes nesta segunda parte, mas para fechar esta pequena janela para o livro, me detenho ao capítulo XI (11), "Os erros mais comuns da escrita criativa", tratando dos Erros de tratamento de conteúdo e Erros de superfície textual, que são os alertas dos autores do guia "Escreva!". A partir dos conceitos de John Gardner, os erros de tratamento de conteúdo (descritos por aquele autor como erros de alma) poderiam se dividir em três: sentimentalismo, frigidez/frivolidade e maneirismo. No primeiro, o conselho é fugir de situações trágicas/ clichês, que não tenham função essencial para a história (exemplo: descobrir que os amantes são irmãos). No segundo, aconselha-se a manter o mesmo tom. Se uma história é séria, mudar para o tom cômico deve ter função e coerência com a situação ou o personagem, mas não se deve proceder esta alternância indiscriminadamente. Em relação ao maneirismo, Pedro e Jane advertem para o demonstração desnecessária de estilo, quando o escritor tenta ser maior do que o seu tema. Nos erros de superfície textual, os cuidados devem ser com expressões gastas e lugares comuns.

 

O guia se aproxima do desfecho com um adendo chamado "A prática infinita", em que os leitores são exortados à caminhada constante, ao processo continuado. Para isso, os autores sugerem a busca da progressão do curso nas próprias oficinas ou pelo site www.escreva.org. Ao final da obra, também temos "Nota sobre as traduções utilizadas nesta edição", "Sugestões de leitura" e "Bibliografia sobre escrita criativa". Boa leitura e bom lançamento a todos. Mais informações nos sites www.palavraria.wordpress.com e www.leituraxxi.com.br.







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