Quando a criança encontra a filosofia

"Para as crianças, o mundo - e tudo o que há nele - é uma coisa nova; algo que desperta a admiração. Nem todos os adultos vêem a coisa dessa forma. A maioria deles vivencia o mundo como uma coisa absolutamente normal.
E precisamente neste ponto os filósofos constituem uma louvável exceção. Um filósofo nunca é capaz de se habituar completamente com este mundo. Para ele ou para ela o mundo continua a ter algo de incompreensível,
algo até enigmático, de secreto. Os filósofos e as crianças têm, portanto, uma importante característica comum. Podemos dizer que um filósofo permanece a vida toda tão receptivo e sensível às coisas quanto um bebê."

Jostein Gaarder

 

Sessão de autógrafos de “Pérolas de Pedro”, de Demétrio de Azeredo Soster e Fabiana Piccinin, será nesta sexta na Palavraria

 

Por Luiz Gonzaga Lopes

 

Como já vaticinou o filósofo Jostein Gaarder, o mundo é uma coisa nova para as crianças e que elas e os filósofos permanecem sempre receptivos a estas novidades. No caso dos infantes, o que causa mais espanto é a capacidade de nominar e de fazer associações e criar sentenças e situações completamente inusitadas. Os pais e professores do Programa de Pós-graduação em Letras e do departamento de Comunicação da Unisc Demétrio de Azeredo Soster e Fabiana Piccinin, resolveram eternizar pelo facebook, depois em livro, as máximas do seu filho Pedro, a partir dos 4 anos de idade, em 2012. O resultado desta coleta de ourivesaria é a obra "Pérolas de Pedro" (Catarse, 2015), que eles autografam nesta sexta, a partir das 19 horas, na Palavraria Livros e Cafés (Rua Vasco da Gama, 165 – Bom Fim).

 

O livro, cuja capa e ilustrações internas são do artista gráfico Gabriel Renner, é composto por 87 crônicas garimpadas por Fabiana e Demétrio. "Essa mágica irrompe um dia quando os pequenos filósofos desatam a dizer de seus leituras do ordinário sempre como novo. Sempre diferente. Dão para vida este lugar de invenção. De teste e troca. De provocação e sedução. O mundo está, portanto, cheio das melhores e mais encantadoras narrativas desses autores de poética do cotidiano. O que fizemos foi recolher as deles e levá-las ao registro", afirmam Demétrio e Fabiana na apresentação do livro.

 

O prefácio é do jornalista e escritor Carlos Urbim, in memoriam (Urbim faleceu em 13 de fevereiro de 2015). Urbim comentou, na sua apresentação que Pedro é um "guri de sorte". Vai mais adiante ao louvar a iniciativa dos pais: “cheios de ternura, os pais de Pedro revelam o encanto do convívio familiar que leva a constatações e descobertas surpreendentes. Ainda bem que eles conseguem entregar estas páginas encharcadas de alumbramentos”.

 

Da minha parte, como jornalista, crítico literário e pós-graduado em Letras, só posso dizer que o livro é um encantamento só, que passei a conhecer melhor Pedro e seus pais, por 87 pílulas da mais pura filosofia e perspicácia, como a pérola treze, por exemplo:

 

chegando na escola, primeira hora da tarde, o piá desce do carro.

– eu preciso salvar o mundo!

– por que, meu filho? tu é muito pequeno ainda.

– porque as pessoas estão em perigo, pai. 

 

Lendo de uma sentada o opúsculo, se é que meu amigo Demétrio me permite assim chamar, constato que muitas das coisas mais simples e não sentenciadas estão no centro da ideia de Pedro, o filósofo e escritor em construção. Uma das conversas com a mãe é acentuada por Urbim no prefácio. Qual mãe iria negar esta máxima?

 

–  Sabia que quando a pessoa diz não, assim muitas vezes... não, não, não... a cara dela se congela cheia de rugar para sempre?

 

Como uma ostra pensadora, Pedro se abre para o mundo adulto com suas pérolas e nos deixa impressionados, atônitos e exultantes com a sua capacidade de resumir em uma frase, que beira o aforístico, o que o mundo está apresentando:

 

– ah, seria ótimo, a tevê ia ficar no meu canal para sempre!

ou 

 

– sim, e além disso, também pratico esporte de dar risadas. é esporte porque a gente mexe a língua né?

 

ou ainda

 

pedro tem, cês sabem, um certo apreço pelo homem-aranha (e pelo batman, e pelo ben 10, e pelo...)

lá pelas tantas, caminha até o meio da sala, levanta o braço e diz, imitando o repórter peter parker: 

– O poder da empresa!

ao que a mãe corrige:

– da imprensa, tu quis dizer...

– isso: o poder da empresa!

 

Profético, filósofico, empírico, inusitado. Louvores a Pedro, Demétrio e Fabiana. E que a criança possa sempre esbarrar com este saber na esquina da filosofia. Para o bem da humanidade. Ah, e compareçam lá na Palavraria nesta sexta para dar um abraço no Demétrio e na Fabiana ou simplesmente para conhecer Pedro e presenciar o nascimento de alguma nova pérola.

 

SERVIÇO
O quê: Lançamento do livro de crônicas "Pérolas de Pedro" (Catarse, 2015)
Quando: 4 de março, sexta-feira
Onde: Rua Vasco da Gama, 165 – Bom Fim - Porto Alegre
Horário: 19 horas