O filé e a carne de pescoço

O filé e a carne de pescoço

Prefeito Sebastião Melo defende entregar drenagem em Porto Alegre ao setor privado. Entenda porquê o assunto merece um debate sóbrio

Jonathas Costa

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As chuvas torrenciais que atingem de maneira isolada – mas frequente – pontos de Porto Alegre, em especial nesta época do ano, expõem um problema que persiste por anos e que gera transtornos para a população também no inverno: os alagamentos. E eles são numerosos. 

Se é verdade que altos volumes de chuva em um curto espaço de tempo causam problemas em qualquer cidade, é igualmente inaceitável que os moradores de alguns bairros da cidade tenham que conviver com prejuízos de maneira recorrente. Foi o que ocorreu há alguns dias. Novamente, inundações arrastaram carros, invadiram casas e prédios e não pouparam nem grandes empreendimentos, como um shopping e um hospital. Ao programa Agora, da Rádio Guaíba, o prefeito Sebastião Melo reiterou, no dia seguinte aos acontecimentos, que a drenagem da Capital precisa ser repassada à iniciativa privada. Uma intenção, diga-se de passagem, que o prefeito defende desde o ano passado. Ainda assim, não faltaram críticas à sua fala.

Pelas redes sociais da rádio e também do Correio do Povo, leitores demonstraram insatisfação com o que classificaram ser a “sanha privatista” da administração municipal. O principal argumento era a intenção de privatizar mais um serviço municipal, o que indicaria a incapacidade da prefeitura de atender às necessidades básicas da população. 

De fato, existem inúmeros argumentos para defender o pensamento privatista ou estatizante. Mas há que se destacar, neste caso, o que disse Melo: “Achamos que não dá para dar o contrafilé para o privado e ficar a carne de pescoço com a prefeitura. Estamos conversando muito com o setor do saneamento e dizendo: 'sim, nós entregaremos a concessão de água e esgoto, mas vocês têm que levar, se não totalmente, boa parte da drenagem'”. Este é o ponto. Se a captação, tratamento e distribuição de água na Capital será entregue à iniciativa privada, por que não exigir uma contrapartida generosa à cidade, como a garantia de melhorias no sistema de drenagem? Os investimentos em obras de macrodenagem são calculados na casa dos R$ 4 bilhões. Com ‘B’ de bola. Este número, por si só, justifica um debate maduro sobre o tema.


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