A distância íntima entre leitor e escritor

A distância íntima entre leitor e escritor

Formato online com transmissão de lives permitiu ao público um relance na vida pessoal dos autores

Live com Isabel Allende ofereceu um vislumbre de sua casa em San Rafael, na Califórnia

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A estante branca repleta de livros é iluminada pelo sol da tarde, embora já passe das 19h na capital gaúcha. Livros alinhados, empilhados e enfileirados dividem espaço com porta-retratos e pequenos objetos de diversas cores. Se não fosse pela foto com Barack Obama no alto de uma das prateleiras, poderíamos dizer que a estante da renomada autora Isabel Allende é tão comum quanto a de qualquer outra pessoa.

Momentos íntimos e únicos como esse, onde ‘invadimos’ a casa de escritores mundo afora, só foram possíveis graças à edição totalmente remota da 66ª Feira do Livro de Porto Alegre. Ironicamente, parece que a distância imposta pelo isolamento social devido à pandemia aproximou ainda mais os leitores de seus autores favoritos, oferecendo um vislumbre da rotina e, principalmente, do local em que concebem suas obras. Por meio das lives transmitidas no site da Feira e no YouTube, podemos ver que tipo de televisão Martha Medeiros tem em sua sala de estar, a cor das paredes do apartamento de Conceição Evaristo e o livro escrito por Isabel Allende durante a pandemia – um calhamaço de folhas brancas em cima de sua escrivaninha. Ao ser questionada sobre o que vai fazer quando a pandemia acabar, Isabel não hesitou: “Ir a um restaurante, sentar com alguém e tomar um vinho”.

Paralelamente, esses mesmos autores também tiveram um contato diferenciado com seu público devido ao formato digital do evento literário. Aqueles que assistiram às transmissões ao vivo pela internet, por exemplo, puderam mandar perguntas e comentários via WhatsApp aos escritores, independentemente de onde estivessem. “Embora não tenhamos nenhum levantamento oficial, notamos pessoas assistindo de todos os estados do Brasil. Tivemos perguntas chegando até dos Estados Unidos”, contou Lu Thomé, curadora da Programação Geral da Feira. Desde dúvidas a respeito de personagens de determinado livro até curiosidades sobre a vida pessoal dos autores, tudo foi respondido. O escritor português Afonso Cruz, por exemplo, contou sobre como tornou a produção artesanal de cerveja um hobby após ler um livro a respeito da bebida escrito por um monge.

A edição virtual trouxe como vantagem o alcance de audiência. “Antes, os eventos se realizavam em locais com capacidade limitada, o que nesse formato não ocorre”, afirmou Isatir Bottin Filho, presidente da Câmara Rio-grandense do Livro. De fato, as lives possibilitam o acesso de várias pessoas simultaneamente, além de ficarem disponíveis no site da Feira do Livro (https://feiradolivropoa.com.br/) para quem perdeu a oportunidade ou quer rever os melhores momentos. “Isso já nos sinaliza favoravelmente a fazer um modelo híbrido para as próximas edições, com encontros virtuais e presenciais entre leitores e autores”, ressaltou Isatir.

Luiza Schirmer / ESPM


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