Sonho real de um livreiro ambulante

Sonho real de um livreiro ambulante

Uma das maiores livrarias do Rio Grande do Sul nasceu a partir da obstinação de um gaúcho determinado e sonhador

Correio do Povo

Marreco é o mascote do estabelecimento

publicidade

*Camila Souza (4º semestre UniRitter)

Um caminhão cheio de livros, paixão pela cultura rio-grandense e muita determinação. Assim começou a história de um livreiro ambulante que, na década de 1960, não imaginava que um dia seria proprietário de uma livraria e editora encarregada da missão de fazer conhecida a história do Rio Grande do Sul. 

Manoel Martins, responsável pela fundação de uma das bancas mais antigas da Feira do Livro de Porto Alegre, começou a desenvolver sua paixão pelos livros quando ainda era jovem, época em que trabalhou como office boy e vendedor em algumas livrarias. Em 1955, Manoel participou da 1ª Feira do Livro de Porto Alegre como sócio em uma banca. Com visão de empreendedor e determinação, procurou um local para vender livros usados. Em 1956, já era proprietário de um sebo e participou da 2ª edição da Feira como dono da Martins Livreiro, banca que permanece até hoje no evento. 

A paixão pelo universo literário aumentou quando Manoel Martins decidiu comprar um caminhão e montar uma livraria ambulante. Nelson Jorge Elias foi seu parceiro nessa experiência de sucesso. Juntos, os livreiros percorreram mais de 100 cidades do Estado, onde foram recebidos com entusiasmo. Durante essa aventura, Manoel conheceu o público de perto, identificou obras que faltavam nas livrarias e deu início ao sonho de ser editor. Martins deixou o caminhão com o sócio e retornou ao sebo. Havia muito trabalho pela frente. 

O estabelecimento localizado na rua Riachuelo se tornou um ponto de encontro dos amantes de livros. Mario Quintana, um dos maiores poetas do século XX, era comprador assíduo da Martins Livreiro. Seu Manoel atendia com atenção e procurava ajudar todos os estudantes, professores e curiosos que buscavam obras específicas, na maioria das vezes sobre o Rio Grande do Sul. Mas, apesar de muito prestativo, Manoel nem sempre encontrava os livros necessários, o que o incomodou e fez despertar a vontade de se tornar um editor de obras relacionadas ao RS. 

Seu Manoel decidiu vender a livraria e se dedicar inteiramente ao trabalho de editor. Foi aconselhado pelos colegas a desistir da ideia, afinal, a linha editorial era muito restrita e o futuro do negócio era incerto. Contudo, Martins prosseguiu com o sonho, começou a reeditar obras esgotadas e lançar novos autores gaúchos. Como resultado de sua determinação, surgiu a Martins Livreiro e Editora, que há 50 anos faz com que a história e a cultura gaúcha chegue até os lugares mais distantes do Estado. 

A missão continua 

Quem passa pela banca 01 da Feira do Livro, percebe algo incomum na decoração do espaço: um marreco. O objeto está na Feira há aproximadamente 60 anos. Era o amuleto da sorte de Manoel Martins e o acompanhou durante sua trajetória. Além do marreco, o que permanece são as memórias, a paixão pela literatura e o exemplo de determinação de Seu Manoel, que faleceu há 10 anos.  

A responsabilidade de manter o trabalho está com sua família. A filha Márcia, que acompanhou a caminhada do pai, agora é responsável pela editora, enquanto a livraria é administrada pela neta Thais e por Ivo Almansa. Os familiares continuam o trabalho iniciado há 64 anos e participam de 25 feiras no interior do Estado, além de levar a cultura gaúcha para diversos lugares do país, como Brasília, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. A Martins Livreiro e Editora permanece na Feira do Livro de Porto Alegre cheia de histórias que representam o amor pela literatura, cumprindo a missão deixada por um livreiro ambulante apaixonado pela historiografia gaúcha.     

 


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895