80 tiros

80 tiros

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Uma amiga me perguntou se eu conseguiria explicar que tipo de lógica levaria criminosos a executarem um alvo humano com 80 tiros. Ela, de forma pratica e perspicaz, calculou a despesa desnecessária no custo de munição e me questionou se isso seria exibicionismo, necessidade de impressionar e fazer notícia, raiva em excesso, marca registrada de gangue ou o quê. Para ela, parecia apenas um gasto excessivo e desnecessário de balas num crime que beira o absurdo. Chamando a atenção da mídia, num fato anormal, conseguiram é complicar quem deu a ordem para essa execução. Acontece que quando a gente vê as imagens do assassinato, que ocorreu esta semana no bairro Sarandi (de novo!), na capital gaúcha, percebe que os matadores são meio atrapalhados. Estariam com medo, sob efeito de algo ou são novatos no crime submetidos à prova de fogo? Fossem experientes, seriam objetivos e não teriam baleado uma mulher para roubar seu carro, numa ação nada a ver com o alvo que apenas deixou a lambança ainda pior. E, claro, amais necessária de ser bem investigada pela polícia. Vai sobrar pros mandantes.

Já um assinante do Correio do Povo, um dos que costumam trocar mensagens comigo com frequência durante todos estes anos de vida da coluna, me lembrou que essa marca de 80 tiros está virando quase um estigma. Houve o caso daquela ação polêmica de uma patrulha do Exército no Rio de Janeiro, onde 80 tiros tiraram a vida de um músico que estava no carro com a família e ia a um chá de bebê. Ano passado, também em Porto Alegre, uma modelo e influencer digital jogava videogame com o namorado, logo após fazer uma postagem em redes sociais (onde tinha cerca de 80 - que número! - mil seguidores), quando assassinos invadiram sua casa e executaram ela e o namorado com 80 tiros. Claro, não se compara uma ação de estado com um crime praticado por bandidos. Ele só me lembrou fatos recentes envolvendo tantos tiros num único ato.

Raiva? Exibicionismo? Certeza de enfim matar um sujeito que já havia escapado de outros dois atentados, com sete e onze tiros? Neste caso do bairro Sarandi, caro leitor, observe o contexto. A criança em desespero ao ver o pai morto na sua frente, graças às suas péssimas escolhas. A mulher que ia apenas buscar seu filho na escola e foi baleada sem nada ter a ver com o assunto, só por seu carro ser escolhido pelos assassinos para ser roubado. Baleada, em estado grave. É isso. Famílias destruídas. Famílias em dor. Inocentes em desespero. Tantas famílias, tantas crianças violentadas no corpo e na alma todos os dias por causa desse lixo das drogas. Aí, se você é um deste que pega uns 80 reais e diz que sextou, ou sabadou, comprando sua droguinha “recreativa”, por favor. Pense. E olhe o que você está bancando.


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