Ação policial

Ação policial

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Não faz muito tempo, em São Paulo, dois homens armados em um carro decidiram abordar uma moto, na madrugada. Policiais militares patrulhavam o local, viram a cena e decidiram conferir a situação. Um dos homens que realizava a abordagem se identificou como policial civil e entregou até documentos aos PMs. Que baixaram a guarda. Erro fatal. O falso policial aproveitou o instante de relaxamento e matou os três PMs a tiros. Dia desses, aqui em Guaíba, um grande assalto teve não só bandidos disfarçados de policiais, como uma falsa viatura da Polícia Civil. Quem está no front da guerra, sabe que infelizmente não é difícil viver situações embaraçosas onde policiais de mentira (e, vez ou outra, até policiais com desvio de conduta) tentam escapar de uma abordagem protegidos sob a máscara da falsa identificação. Quase sempre se dão mal, como o falso PM que foi assaltar um banco em Curitiba, no Paraná, e deu de cara com um PM de verdade. No caso de São Paulo, a tragédia ceifou três vidas. Um dos PMs assassinados estava com a esposa grávida de gêmeos.

Claro que ser abordado não é uma situação confortável. Eu mesmo, quando no serviço de inteligência, fui abordado por policiais civis junto com a minha equipe. Pistolas apontadas para as nossas cabeças num local bem sinistro. Levantamos os braços sobre a cabeça, com cautela, e nos identificamos. Estávamos, todos, com nossos documentos. Estar com a identidade funcional é um requisito legal para portar nossas armas. Tudo resolvido, mesmo que inicialmente tenso. As ruas são assim. Tensas. Ninguém está nesta guerra pedindo para morrer, mesmo ciente dos riscos inerentes à profissão. Precaução é segurança. Seguir os protocolos legais é agir pela preservação da vida e da cidadania. Os PMs paulistas talvez estivessem vivos se não confiassem numa informação de boca. Sem comprovar a identidade, qualquer um pode dizer que é qualquer coisa. Cabe ao policial que aborda tomar suas precauções. E ao que é abordado, colaborar e compreender que, amanhã, será ele que estará abordando e temendo o risco. É preferível respirar aliviado após um momento inicial de tensão do que nunca mais ter a chance de respirar neste mundo.

O que aconteceu em Porto Alegre não pode ser levado como desinteligência das instituições. A Polícia Civil e a Brigada Militar têm histórias ricas demais para verem todo um trabalho de integração estremecido por fatos isolados. Que parecem, a quem vê de fora, e quem vê de fora nem deve dar pitaco, atrito entre indivíduos. Entre seres humanos normais, que podem errar, talvez com uma frase mal colocada de lá ou de cá, ou um gesto que soe mal e crie a indisposição. O estresse cria atritos que, em outra circunstância, nem existiriam. E policiais são homens da guerra. Não monges. Seria melhor as pessoas lembrarem que só unidos somos fortes. E, entre criminosos organizados e gestores públicos que detestam as polícias, já tem gente bastante que merece a nossa energia. Ou, enquanto gastamos fogo amigo em tiros no pé, eles aproveitam para nos enfraquecer mais ainda. E com nossa ajuda. 


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