A ameaça das pedras

A ameaça das pedras

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Existe um péssimo cacoete comportamental que nos leva, de um jeito quase instintivo, a dois extremos: o medo ou o negacionismo. O medo pelo menos gera alguma prevenção. O negacionismo é uma aposta que só fertiliza o terreno para as tragédias. Cuidar, cuidar-se. Um mantra que vai muito além das pregações preventivas dos profissionais de segurança. “Não olhe para cima” poderia ser uma bela sátira sobre a necessidade de se levar a sério perigos reais à humanidade. Pena o filme ser tão ruim. Precisamos nos olhar no espelho e ver como embarcamos em ondas de condutas ridículas sobre questões sérias. A pandemia matou milhares, se reinventa para seguir matando e parece que não aprendemos nada com ela. Nesta semana, duas condutas para reflexão. O tenista número 1 do mundo barrado na Austrália por se negar a se vacinar. Estupidez e intransigência sem sentido. Já a postura do comandante do Exército brasileiro, determinando medidas rígidas de proteção e seriedade em relação à pandemia aos militares de todo o país, mereceu aplausos. Eis um militar de verdade.

Agora, há questões difíceis de lidar. Leitores me escreveram relatando seu medo quanto ao ataque das pedras nas saídas de Porto Alegre. É gente séria, que olha para cima, para os lados, que cuida e se cuida. Mas como agir nesses casos? Evitar horários é impossível para quem não depende de si para ir e vir, mas de horários de atendimentos médicos, do trabalho etc. Trajetos alternativos também não dão muito certo. E os ataques prosseguem. Há vítimas que não registraram ocorrências e aí está um grande erro. Sem o registro fica mascarada a gravidade real da situação. Registre. Pode ser em casa, na delegacia on-line da Polícia Civil. É para os gestores da segurança pública saberem o que acontece e adotarem providências. Transmissão de pensamento ainda não existe. E é perfeitamente compreensível o medo, mesmo que a Polícia Rodoviária Federal já tenha prendido gente envolvida nesses crimes. Como se proteger? Instalando escudos sobre os carros?

O que protege é ação. O contrário da omissão. E ações para proteger a comunidade não precisam ser exclusivamente públicas. O setor privado pode se engajar. Até tomar a dianteira, se necessário. É bom lembrar que há empresas que lucram bastante com nossas rodovias. Elas podem, devem, imediatamente adotar ações que resultem em proteção aos seus usuários. Seja com a instalação urgente de dezenas de câmeras por todos os lados, seja com a adoção de outras medidas em parceria com o poder público. Daí a comunidade faz a sua parte: não deixa passar em branco, registra a ocorrência e denuncia envolvidos quando souber. Para fechar com chave de ouro, basta nossa burocracia processual levar a sério esses casos. Não são simples danos a veículos. São tentativas de homicídio. Assim devem ser encarados, até em respeito à vítima assassinada na noite do Dia dos Namorados, num desses ataques covardes.


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