O resultado assombroso de mortes, prisões e apreensões, principalmente de armas de guerra, no Rio de Janeiro, só surpreende por ter demorado tanto para acontecer. Há muito tempo se sabe como agem as facções criminosas na capital carioca. Como elas isolam, subjugam, extorquem, escravizam e expulsam ou matam os moradores das comunidades onde decidem tomar conta.
Há muito tempo se sabe que esses grupos criminosos se espalham pelo país. E há muito tempo essa guerra faz vítimas larga escala. Quantas centenas de pessoas só o Comando Vermelho executou neste ano? O número, podem acreditar, supera em dezena de vezes os mortos na operação policial desta semana. Ou seja, se formos tratar como guerra, na exata concepção do termo, eles ainda estão vencendo amplamente o conflito.
Pode parecer assustador o resultado, mas foi, enfim, uma ação de fato do estado contra os nichos terroristas do crime organizado. Que se esperava há décadas. O estado se omitiu por anos e anos e agora correu para apagar o incêndio quando ele já é praticamente incontrolável. Mesmo assim, a ação, do seu planejamento até a estratégia estabelecida para evitar ao máximo as fugas em massa dos criminosos, teve um saldo positivo.
Mesmo que tenhamos perdidos quatro guerreiros no cumprimento do seu dever e do seu juramento de defender nossa sociedade. Ação que, por sua repercussão, e por suas revelações – é, tinha gente que não fazia ideia, inclusive autoridades -, já fez se mexerem algumas poltronas até então cimentadas pela inércia, pelo descaso ou pelo conluio. Só não pode parar por aí. E este é o mal de certas ações no nosso país, morrem na primeira curva do tempo.
Seja porque não são movidas pelo verdadeiro interesse de resolver, mas apenas para prestar conta com uma mídia efêmera, ou porque se apagam na disputa medonha das trocas de poderes políticos e suas ideologias distanciadas do povo.
É claro que nenhuma guerra merece comemoração. Não há motivo algum para aplaudir mortes. A guerra é o fim da civilidade, do diálogo, de tudo o que nos torna racionais, humanos e evoluídos. É a admissão da falência de tudo o que já tivemos chance de aprendermos com a história do mundo. Mas ela acontece. E não se entra em guerra disparando utopias.
Chega a doer na alma os discursos dos oportunistas de plantão, agora facilitado pelas redes sociais, justamente os que não estão na pele nem dos policiais que enfrentam o caos, nem dos moradores em meio ao fogo cerrado. E tornam tudo uma rasa e asquerosa disputa ideológica. Que não interessa àquela gente. Eles querem é paz. É vida livre, sem a tirania do crime. Vida sem medo.
Agora, resta saber se o estado está mesmo interessado em resolver o problema e recuperar estas áreas, dominadas pelo terror do crime por tanto tempo e justamente pela sua omissão, com obras contundentes, sérias e definitivas de saneamento, paisagismo, educação, saúde e tudo mais. Garantir cidadania não é barato. Mas a gente paga imposto que dá e sobra, não é mesmo?
