A mão que prende, a mão que ampara

A mão que prende, a mão que ampara

Oscar Bessi

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Final da tarde. E do turno, para alívio dos policiais militares em serviço em Triunfo, RS. Ainda mais sendo sexta-feira. Sexta-feira 13! E de agosto! Porém, quem é policial sabe que nem no último segundo do último minuto de serviço garante que se possa dar, de fato, como encerrado. E que sorte ou azar nem contam quando se trata de cumprir a missão. Quando a Brigada Militar da cidade recebeu, através do fone 190, denúncia anônima sobre uma mulher com grande quantidade de drogas escondidas em sua casa, os PMs respiraram fundo e foram averiguar. Confirmado o fato, um flagrante significaria muitas e indefinidas horas além do final da jornada, o cancelamento do jantar com a família, do descanso, dos planos para aquela noite. É o que a grande maioria dos policiais brasileiros passa, todos os dias. E cumpre seu papel, ainda que sua renúncia não renda manchetes entusiasmadas, nem discursos eufóricos dos oportunistas.
Uma mulher jovem, pobre, sozinha, três filhos pequenos. E lá estava a droga. Nervosa, ela nem tentou negar. Mostrou tudo aos policiais. Crack, maconha e cocaína. Ela escondia, inclusive, na mochila escolar de uma das crianças. E não foi por ameaça que ela aceitou participar de algo ilegal. Era por comida. Para os filhos. A ameaça que rondava a sua casa era a fome. Admitiu, não sabia mais para onde correr, não tinha mais nada. Ouviu dos PMs que entendiam seu drama, mas aquele não era o caminho correto. Ouviu sobre o crime que estava cometendo e o que aconteceria dali em diante. E foi. Sob a voz que leu seus direitos constitucionais e lhe anunciou a prisão, ela aceitou um destino que, sabia desde o início, tinha tristes consequências.
Quatro dias depois, na terça-feira, já solta e em casa e com os pequenos, ela viu a viatura policial voltar à sua casa. Só que, desta vez, os policiais militares do 5º BPM só traziam amor e esperança. Decidiram ajudar aquela jovem mulher e lhe levaram comida e caixas de leite. Avisaram, eis a chance de ficar do lado certo. As crianças eram só sorrisos e ainda ganharam kits do Proerd de presente. Naquela tarde, os policiais ainda distribuíram mais cestas básicas, doadas pela comunidade, a diversas famílias em dificuldade no município. E iniciaram uma campanha para ajudar um humilde casal, pais de gêmeos, com o pai servente e sem condições de sustentar a elevada quantia de leite que consumiam. Os policiais se compadeceram ao vê-los levando as duas crianças num único carrinho no trajeto do trabalho para a casa. E estão em campanha até o final do mês para ajudá-los. Quem quiser ajudar, basta procurar nas redes sociais. A Brigada Militar, meus amigos, não olha a quem quando faz cumprir a lei. Mas também não mede esforços para ajudar quem precisa de amparo e esperança. Este é só mais um exemplo. 

 


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