Oscar Bessi

A Paz que vem de Pelotas

O Pacto Pelotas pela Paz, citado como exemplo de sucesso mundial nesta luta, foi um plano integrado lançado em 2017. Já nos três primeiros anos do pacto, a cidade conseguiu zerar o número de crianças e adolescentes assassinados.

Só bons ventos sopram da Princesa do Sul. Mas nem vou comentar minha euforia como torcedor xavante que sou, com os acontecimentos da semana, como a aprovação final da primeira SAF gaúcha, a determinação da justiça para que os sujeitos que desviaram dinheiro dos cofres do clube indenizem o G. E. Brasil e etc. Vamos falar do belíssimo exemplo que a cidade gaúcha deu ao mundo a ponto de ser citada, como exemplo positivo, como exemplo positivo de redução da criminalidade na Pesquisa Mundial de Vitimização, realizada em 144 países do mundo, e apresentada em Nova York pelo Instituto Gallup na semana passada.

Pacto Pelotas pela Paz, citado como exemplo de sucesso mundial nesta luta inglória – e que na maior parte dos lugares não consegue ser vencida -, foi um plano integrado de prevenção e aplicação da lei baseadas em evidências, lançado em 2017 a partir de uma parceria da Prefeitura de Pelotas com órgãos municipais, estaduais e federais da área de Segurança, Justiça e área social, com a consultoria técnica do Instituto Cidade Segura, viabilizada pelo apoio da Comunitas e da Open Society. Já nos três primeiros anos do pacto, a cidade conseguiu zerar o número de crianças e adolescentes assassinados, além da queda de 76% nas mortes de jovens entre 15 a 29 anos. Com uma inovadora estratégia chamada de Dissuasão Focada, foram prevenidos nada menos do que 153 homicídios.

As conquistas são impressionantes: redução de índices em torno de 90% em crimes como homicídios (que cresciam por mais de uma década consecutiva), roubo a pedestres – que chegavam a quase 350 por mês quando o pacto foi lançado -, roubos a estabelecimentos comerciais e roubos de veículos. Se no estado como um todo, praticamente todos os índices são positivos, lá em Pelotas a virada é gritante. E um detalhe: inclusive os feminicídios foram reduzidos, na contramão do RS, segundo declarou o prefeito atual da cidade.

Pelotas foi o grande exemplo positivo brasileiro ao mundo, ao lado de Nitérói (RJ). Os resultados positivos mostram que é possível sim vencer a violência, mas é preciso uma compreensão e engajamento de todos os poderes públicos, de todos os entes envolvidos não só com o enfrentamento da criminalidade, mas com a promoção da igualdade, da fraternidade e da educação, além das ações sociais e de dignidade e cidadania. Não basta deixar a polícia pronta para enfrentar o bandido. É preciso tornar a carreira de crime algo que não seja atraente para jovens em busca de espaço e respeito. É preciso garantir decência ao trabalhador, preservar sua liberdade e fazer valer sua decisão de estar do lado certo. Uma pena que em muitos lugares isto não vingue por conta de vaidades, mordomias, politicagens, corrupções e egos.

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