Crianças e policiais

Crianças e policiais

Oscar Bessi

publicidade

Descobrir o mundo. Sentir e absorver sem filtros. Sem dúvida, a infância definirá muito do que somos, do que escolheremos e, como adultos, seremos capazes de fazer ou aceitar como normal. Quando eu era criança, a despeito de assistirmos tudo num antigo televisor em preto e branco, era fã, como a maioria dos meninos, de seriados como SWAT, Magnum e outros policiais que passavam por diversas encrencas, mas sempre venciam o inimigo, pois estavam “do lado do bem”. E tudo era, talvez, tão simples que beirava ao simplório. Mas passava algo sobre escolhas. Esse algo parece ter se perdido em nome do “retrato fiel da dura realidade”. Opiniões, claro. E eu até preferia os exemplos da vida real. Meu pai era brigadiano e alguns amigos dele também.

Designado pela Brigada Militar para comandar um batalhão, posso dizer que, em duas semanas, eu e meus colegas recebemos dois belos presentes. Semana passada, uma menininha pediu aos pais, no seu aniversário, para ir lá no quartel e tirar uma foto com nossos policiais militares. Dias atrás, foi um garotinho de 4 anos, morador de uma comunidade periférica, que pediu para nos visitar, tirar fotos e prometeu, sério e solene, que também será policial. Ainda, num intervalo do patrulhamento, em outra tarde, nossos policiais militares jogaram até uns minutos de futebol com meninos de uma comunidade carente, onde atuamos, e foi mais foto, a pedido deles, do que bola em jogo. E se parecer bobagem a quem lê sem perceber a intensidade da emoção que sentimos, é porque não conhece a enxurrada de críticas e péssimas recepções com que estamos acostumados a lidar. Há quem transforme nossa presença ou ausência até em palanque político. Uma pena. Não temos nada com isto, somos apenas o braço de defesa da liberdade do povo em seu cotidiano, não importando quem esteja no poder. 

Então, é incrível que mesmo com todo o esforço contrário em denegrir a imagem policial, neste país que venera bandidos ao mesmo tempo em que reclama do medo, a gente ainda encontre crianças que tenham posturas como as que contei acima. Chega a arrepiar. Dá esperança. E eles não estão ali por influência de política de lá ou de cá. Estão apenas inspirados pela emoção e pela percepção livre do mundo que só as crianças sabem ter, e que depende da educação sob a qual será conduzida. Quem tem respeito, amor, tolerância e fé em valores humanos, cria seus filhos com o objetivo de gerar cidadãos livres e capazes de melhorar o coletivo, com respeito pelas instituições criadas para lhe proteger e ajudar, e não meros consumistas egocêntricos incapazes de refletir sobre algo. Defeitos e erros sempre existirão em qualquer lugar, com qualquer um e em qualquer instituição. Influências equivocadas geram terreno fértil para o caos. E o amanhã é delas, das nossas crianças. Mas prepará-lo é missão nossa.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895