Execução na rodovia

Execução na rodovia

Oscar Bessi

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Esta semana, dois policiais rodoviários federais foram executados no Ceará. Dois pais de família. Dois sujeitos que estavam há quase duas décadas cuidando do sempre complicado, e fratricida, trânsito deste país. Eles tombaram no cumprimento do dever. Morreram porque estavam ali, naquele trecho da BR 116, primeiro ajudando um caminhoneiro em dificuldades, com pane em seu veículo, e ainda, além disso, se esforçando para que aquela parada não causasse maiores transtornos aos demais cidadãos que utilizavam a via. Ajudavam a coletividade. E eles foram atacados porque eram desse tipo de policial que não se omite, não finge que não viu quando algo está errado, que honra o seu dever. O dois foram intervir assim que perceberam um homem desorientado, caminhando por entre os carros, colocando a si e aos outros em risco. Numa dessas fatalidades que a razão custa a acreditar e as explicações parecem pertencer ao incógnito mistério do destino, foram assassinados pelo homem que tentavam amparar, em um momento em que só queriam preservar a vida alheia. O criminoso usou armas dos policiais para cometer o crime.

Logo que o caso foi noticiado, apenas o Correio do Povo deu o destaque que estes dois heróis anônimos mereciam, com uma reportagem completa sobre o fato e as manifestações de pesar das instituições de segurança, em solidariedade. Curioso, nas redes sociais só encontrei notas rápidas, resumos, até deturpações. Não pude deixar de pensar: bah, se fosse um policial a fazer o mesmo com dois civis, nossa, o estardalhaço estava feito. É um pensamento um pouco egoísta, eu sei. Mas também magoado com o injusto julgamento comum. Há alguns anos, um assaltante espancou covardemente a dona de uma locadora e fugiu de moto com o dinheiro do estabelecimento comercial. Deu azar, cruzou com a minha viatura. Abordamos. Voei nele. Foi no instante que localizei a arma enfiada na cinta que um carro parou e uma senhora, sem saber de nada, passou a me xingar: “Vai prender bandido! Deixa o pobre motoqueiro em paz, seu covarde”. Pensei se mandava ela longe ou explicava a situação. Não fiz nem uma nem outra coisa. Prendi o assaltante e fim de assunto.

Minha vantagem, neste episódio, era saber exatamente com quem lidava. Eu tinha a descrição do assaltante, sabia que era agressivo e que estava armado. Mas os policiais da Polícia Rodoviária Federal, no Ceará, não tinham como saber. Era um morador de rua. Desorientado. Talvez receosos do que filmagens maldosas jogadas em redes sociais pudessem fazer com eles, como as acusações que sofri, de gente que nem sabe o que está acontecendo mas quer julgar, então pegaram leve e pagaram com a vida. Eu me incomodo quando tem gente que reclama da abordagem policial rigorosa, como se quem aborda tivesse bola de cristal. Ou os delinquentes usassem, quem sabe, uniformes, como nas revistas infantis dos Irmãos Metralha. Na vida real, o rigor pode ser a diferença entre a vida e a morte. Houve excesso? Desvio de conduta? As corregedorias estão a postos e são implacáveis, acreditem. Agora, toda vez que morre um bom policial, mais cidadãos inocentes ficam expostos ao perigo.


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