Justiça entre os alvos

Justiça entre os alvos

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As revelações trazidas a público pela Operação Echelon, deflagrada pela Polícia Civil e Ministério Público, precisam ser o estopim de mudanças urgentes de atitude no gerenciamento da segurança pública brasileira. E isso inclui legislação. Foram 59 mandados de busca e apreensão em 14 estados, além de 75 mandados de prisão. Tudo para desbaratar a complexa rede de crimes e terrorismo (não há outro termo para definir) disseminadas pelo setor chamado de “Resumos dos Estados”, diretamente subordinado à cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC) e que controla as ramificações do crime pelo território nacional, muito além das fronteiras paulistas. E o que nós, povão, já sabemos, agora talvez os altos escalões do Poder Judiciário também descubram: todos estão na mira, todos são alvos, esses criminosos não respeitam nada. Muito menos a cidadania, a liberdade e a dignidade de um povo, condições sem as quais não há mais soberania. Se é que algum dia houve.

Da estrutura macabra que envolve o crime, facções amigas e rivais e fontes inesgotáveis de renda no submundo e à custa de muito sangue derramado, uma organização que assusta. O sistema de RH montado pelo PCC bota no bolso a bur(r)ocracia pública tupiniquim. Eles têm cadastrados todos os seus integrantes e colaboradores no país inteiro. E com visão estratégica: o PCC Mulher visa a ampliação da participação feminina no mundo do crime. Bom, quem está no meio policial já acompanha isto. Enquanto nós não temos uma estratégia educacional verdadeira e forte para oferecer algum futuro aos nossos filhos, eles já estudaram como cooptar mulheres e crianças para seu reino paralelo. Eles têm regras, como torturar lentamente seus inimigos até a morte. E o PCC ainda oferece curso para fabricar bombas. Não é à toa que a todo instante o noticiário avisa, com apreensão, as ameaças articuladas para séries de ataques, como recentemente em São Paulo, Minas e Rio Grande do Norte. São ameaças sérias e possíveis.

A mais nova descoberta é a ordem para ataques aos Fóruns país afora, onde houver depósito de armas. O plano para esta ação criminosa está em andamento, segundo os policiais, e já tem cobrança da cúpula – encarceirada, pasmem! – para que aconteça logo. Alguns tribunais, como o de Alagoas, já pediram a polícia por perto para protegê-los. É assim, o bicho pega, chama a polícia, seja operário ou magistrado. Faz parte. Mas é bom que se tenha em mente que para esses criminosos que tomaram conta do país, sejam eles do PCC ou de outros “P” ou “ex-P” por aí, não há autoridade. Não há limite, nem inocentes. Há apenas o lucrativo mundo do crime neste gigante pela própria natureza onde, em se plantando, tudo dá. E dá para ser roubado. Até a nossa justiça e a nossa liberdade.

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