Mato Castelhano: o destino e a barbárie

Mato Castelhano: o destino e a barbárie

Uma sociedade que mata seus professores marcha a passos largos rumo à barbárie

Oscar Bessi

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Uma sociedade que assassina professores no exercício de sua função marcha a passos largos rumo à barbárie. O que aconteceu em Mato Castelhano, esta semana, mostra a banalização do absurdo que não conseguimos reverter. A imbecilidade do estilo de vida que criamos sem calcular as consequências, ao contrário, seguimos fomentando essa estupidez que insistimos em chamar de nosso mundo humano e moderno. Mas é apenas frívolo. Hipócrita. Violento e desastroso. Imprevisível. As coisas parecem acontecer, cada vez mais, onde jamais deveriam ocorrer. Numa madrugada que deveria ser eufórica pela experiência vivida, pelo conhecimento experimentado e pela festa que é o encontro dessas mentes brilhantes, o peso da violência inexplicável. Eram alunos com seus professores, apaixonados e idealistas, todos ávidos pela chance de juntos construírem um mundo melhor. Com mais ciência e sabedoria. Mais equilíbrio. Aí vem o destino, sem ser convidado, e traz logo esse jeito tão humano de estragar tudo.

Fabiano de Oliveira Fortes tinha 46 anos. Felipe Turchetto, 35. Os dois mestres da Universidade Federal de Santa Maria eram jovens apaixonados pelo conhecimento, pela arte de ensinar, pela natureza, pela ciência, pela liberdade e pela vida sustentável. Faziam o que fazem milhares de professores apaixonados Brasil afora: iam muito além das salas de aula para que o conhecimento se solidificasse. E não apenas como uma mera informação necessária para uma prova, ou para a conquista do diploma. Mas para que ficasse impregnado na alma, como uma crença, uma convicção. Uma ferramenta transformada, uma batalha de vida. E eles tinham toda a vida pela frente para influenciar positivamente ainda outras tantas gerações além das centenas de coração que, através de suas lições, já haviam empolgado. Aí vem o destino, sem ser convidado, e traz logo esse jeito tão moderno de terminar com o que é bom.

O assalto ao hotel foi todo estranho. Hóspedes sem dificuldades para se inscreverem com nomes falsos num hotel sem câmeras, numa cidade pequena e calma. Chaves Pix erradas na hora de extorquir os reféns, confusão. Um ataque na madrugada. Bandidos amadores e anônimos? Talvez aventureiros do mal, alucinados por alguma droga, desesperados, imersos em qualquer ódio e visando um possível paradouro de turistas. Quem sabe com alguma ajuda? Apesar das trapalhadas, eles ceifaram duas vidas. E não quaisquer vidas. Dois professores. Dois seres iluminados. Duas almas inspiradoras. Que estavam ali não para falar de medo aos seus alunos, mas de esperança. Só que aí vem o destino, sem ser convidado. E traz logo essa mania tão humana de violentar o que há de mais rico em nossa pobre humanidade.


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