Oscar Bessi

Metanol: o drink da morte

Nas palestras que fiz esta semana, era o tema dominante nas perguntas: o que se está bebendo na balada? Quais os riscos que se corre? Aos que se entregam sem pensar ao combo da promoção, ao brinde de graça, ao drink mais barato, ao convite sedutor além da conta, cuidado.

Perigo no copo.
Perigo no copo.

As notícias trágicas que envolvem um número considerável de pessoas contaminadas por metanol, no estado de São Paulo, provocaram um alerta. Nas palestras que fiz esta semana, era o tema dominante nas perguntas. Porque eu posso até, como escritor, visitar empresas e escolas e falar sobre literatura, mas o tema das violências diversas e das drogas, lícitas ou ilícitas, sempre aparecem. Há pouco tempo eu me preocupava em explicar, principalmente aos jovens, sobre o engodo que é misturar energéticos com bebida alcoólica. O mal que isto faz. Hoje, um medo toma conta dos adolescentes com estas últimas notícias. O que se está bebendo na balada? Quais os riscos que se corre?

Bom, isto nunca foi um negócio muito ético no Brasil. Nos 35 anos que passei na atividade policial, desde os primeiros dias lá no início da década de 90, topamos com falsificações de bebidas e cigarros – isto só para falar das drogas lícitas, porque as ilícitas também são falsificadas: pegamos muito viciado carregando porções de talco, bicarbonato de sódio, pó de vidro e até esterco (fezes de cavalo), entre outras coias piores, achando que eram porções genuínas da droga que o aprisionava no vício. Eram só traficantes caloteiros. Duplo golpe.

As polícias investigam a origem das mortes que aconteceram com a ingestão de metanol, em São Paulo. A fabricação ilegal e a adulteração são males presentes não apenas aqui, mas em vários países, quando o assunto é o mercado das bebidas alcoólicas. Este negócio ilegal movimenta muitos bilhões de reais por ano só aqui no Brasil. A fabricação ilegal de cervejas artesanais, por exemplo, mais que dobrou no país na última década. De destilados, então, aumentaram em mais de 80% as falsificações. Em contrapartida, as apreensões diminuíram consideravelmente – ou seja, a ação de fiscalização dos poderes públicos não está no mesmo ritmo deste crime, e fica para trás, deixando o povo à mercê. É bom lembrar que o sistema de controle de fabricação de bebidas alcoólicas, implementado pela Receita Federal em 2008, foi suspenso em 2016. Houve tentativa de restabelecer esta fiscalização, mas o assunto está parado no STF e sem despertar muito interesse. Quem sabe agora?

Há quem diga que o crime organizado não está envolvido. Que os bandidos que estão fazendo isto agem “solo”. Até pode ser, em algumas situações. Mas é óbvio que um mercado que movimenta tanto dinheiro, e financia tantas coisas neste país, tem, sim, o crime organizado no esquema. Afinal, a origem das fortunas desses sujeitos é justamente o vício. Então, aos que se entregam sem pensar ao combo da promoção, ao brinde de graça, ao drink mais barato, ao convite sedutor além da conta, cuidado. A morte pode estar à espreita, levada por estas mãos que inserem no teu copo um produto químico usado em limpadores de para-brisa, e extremamente tóxico, mas impossível de ser verificado visualmente. A bebida vai parecer normal. Como se defender? Bom, o álcool tem lá seu grande elenco de males, já. Sozinho. Que tal pensar melhor ainda antes de beber?

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