Monstros à solta

Monstros à solta

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É difícil para qualquer policial lidar com pedófilos, estupradores e aliciadores de crianças e adolescentes. Se há momento em que o equilíbrio e a razão escorregam até o limiar do ódio, é este. Mas os policiais, que também são mães e pais e irmãos, precisam ter, em meio a armas e coletes, estômago. E um belo estoque de paciência para que se mantenham imparciais. Porque é desaforo na cara, ameaça, união entre bandidos, silêncio entre vítimas, incerteza quanto a punições, cegueira de governos e a incompreensão de quem julga (talvez pela distância que estes, salvo gratas exceções, mantém da realidade doída). Não vivemos num mundo lógico. Temos é um sistema social onde quem paga tudo isso é o povo, na extorsão chamada impostos, mas nada do que ele paga se movimenta para ele, para o bem estar dele, povo. Por isso os crimes proliferam lépidos e faceiros. Lucrativos. Empilhando vítimas. No palco, a hipocrisia dá show com a inércia e a inversão de valores na plateia, aplausos e rostinho colado.

Na Feira do Livro de Jaquirana deste ano, como escritor convidado, professores e o SESC/RS foram enfáticos: precisavam que eu conversasse com o maior público possível de pais e estudantes sobre violência sexual contra menores. Sempre me pedem para conversar sobre meus livros e fazer uma interseção destes com os temas das drogas e violências diversas já que, antes de ser escritor, sou um policial que vivencia problemas assim há décadas. E agora entendo esta aflição e urgência. Precisavam de ajuda e estavam se mexendo. Então esta semana, a polícia gaúcha prendeu quatro adultos na cidade por aliciamento, exploração sexual e venda de adolescentes. Eles vendiam meninas de 12 a 15 anos para traficantes de drogas! As vítimas, pobres, eram induzidas ao consumo de drogas antes de virar pedaço de carne nas mãos sujas dos bandidos. E olhe que um dia antes a Polícia Civil do RS já havia desbaratado uma complexa rede de pornografia infantil em várias cidades gaúchas.

E se avaliarmos os números – nada confiáveis, pois este é um crime silencioso -, enxergamos crescimento destes crimes. Como mudar isto? Lei dura, sempre. Mas sem arrego, por favor. Que a polícia já faz a sua parte, investigar e enjaular esses monstros. E as vítimas? Sua reinserção, sua recuperação, sua volta à vida não são fáceis. Tem custo público que não pode ser ignorado. Mas o investimento mais urgente é na Educação, insisto. Precisamos adaptar nossas mentes criativas ao respeito, à liberdade com limites, a um freio neste apelo sexual descontrolado que ostentamos até como marca do turismo nacional. Conscientizar é mudar comportamentos e ideias, é educar para o respeito ao outro desde tenra idade. Pois o único limite para que não façamos algo contra outrem é nossa barreira interna moral. O que não conseguimos fazer porque nossos valores não permitem. É o que anda raro.

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