Nós somos o nosso perigo

Nós somos o nosso perigo

Oscar Bessi

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Domingo passado resolvi sair cedo de casa para correr. Minha ideia era aproveitar o clima ameno do amanhecer e treinar numa avenida próxima de minha casa, que oferece aos apaixonados pelos esportes aeróbicos uma reta em faixa dupla, que leva à rodovia ERS 240, à zona rural de Montenegro e ao charmoso município de Pareci Novo. Um lugar tão belo quanto calmo. É revigorante correr na rua. Quer dizer, até ali. Como reza a cultura policial, não há amanhecer de sábado ou domingo totalmente tranquilo. Os rescaldos das festas e excessos proporcionam cenas bizarras e tristes, que os policiais e as equipes de resgate conhecem como ninguém. Até em tempos de pandemia as recomendações para que se evite aglomerações são desrespeitadas ou desprezadas e, os protagonistas do desrespeito, dão de ombros para as suas vidas e as dos outros. Nenhuma novidade.
Eu estava já no final dos meus 6 km que me propus correr, quando um carro surgiu em alta velocidade e em zigue-zague na pista contrária. Fiquei tenso. Lembrei dos inúmeros casos de ciclistas, corredores ou simples pedestres atropelados pelos amantes do desrespeito. Não vi ao certo quantos eram, mas no mínimo quatro cabeças surgiram nas janelas e me berraram desaforos ou apenas gritaram. Todos meninos. Uma garrafa de long neck, de vidro, voou e pousou perto de mim. Talvez tive sorte, por estarem tão grogues também estavam sem qualquer mira. Lembrei de um vídeo que enviaram num grupo de amigos, certa vez, onde um trio de playboys filmou o momento em que ultrapassava um ciclista, que praticava seu esporte às margens da rodovia, e o empurraram, fazendo com que se desequilibrasse e caísse no barranco. Achei não só o cúmulo as risadas dos que fizeram esta barbaridade, como de todos os que viram o vídeo e conseguiram achar um absurdo desses muito engraçado.
Nossas ruas são perigosas. Não falo só de cidades grandes. E não é só pelos breus, tão amigos dos assaltantes, que a má iluminação pública proporciona, ou pelo péssimo costume de se fazer vias pensadas apenas para a tirania dos carros, como se fosse o único meio de locomoção humana. Há muitos riscos que enfrentamos em nossas ruas e são apenas resultados de nós mesmos. Da nossa educação fracassada. Afinal, que ofensa ou desafio eu, corredor de rua, ofereci aos bêbados daquele carro? Festa não precisa ser isso, ultrapassar sem dó os próprios limites, físicos e psíquicos, e sair por aí, jogando seus recalques para cima de inocentes. Ceifando vidas. Destruindo famílias. E depois ainda tentando posar de vítima, como no caso de um jogador de futebol no Rio de Janeiro. Triste. Mas é o estilo de vida que temos.

 


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