Nossa guerra perdida

Nossa guerra perdida

publicidade

Familiares e amigos da mulher morta em Capela de Santana fizeram uma caminhada pedindo paz. O crime chocou a opinião pública. Mas foi só mais um crime que chocou e já caiu no esquecimento, entre tantos outros que se empilham nas notícias do jornal todos os dias. Uma mãe jovem, duas crianças, a casa humilde. Dois adolescentes drogados que disseram ter intenção de roubar para sustentar seu vício em drogas, mas se assustaram, mataram e queimaram tudo. Detalhe: foram com um galão de gasolina já prevendo que iriam se assustar. A Polícia Civil vai desenroscar esse nó e nos mostrar a verdade, como sempre. Até lá, até as provas casarem com a certeza dos policiais – infelizmente isso é preciso -, fica a reflexão sobre mais uma tragédia. Outra. Às vésperas do Dia da Criança, não creio que muitos pararam pra pensar naqueles sonhos interrompidos. Sonhos certamente simples, num mundo de desesperanças.

Caminhadas pela paz. Quantas são feitas todos os dias no Brasil? Quantas camisetas mostram jovens, crianças, famílias inteiras de inocentes vítimas da crueldade banal de nossa violência cotidiana? Qual o resultado? Discurso floreado de alguma autoridade, teoremas utópicos de um “especialista” de carpete e nada além. Aliás, de uns bons anos pra cá, as manifestações populares parecem ter perdido sua força. Muitos se reúnem, vão às ruas, pedem, protestam. O que muda? Nada. Quem ouve o clamor do povo? Quem toma alguma atitude de mudança? Ninguém. Todos os resultados dessa conta são contra nós, o coletivo. O Brasil sangra péssimos resultados mesmo pleno de espaços e possibilidades. Nossos números superam as guerras mais cruéis do planeta. Mas a pauta mais urgente dos gestores da Nação segue a zombar de nossa tragédia. São os conchavos eleitorais do próximo pleito, a guerra de grupos pelo poder, as lucrativas corrupções e o desfile asqueroso de inutilidades que, infelizmente, aceitamos. Passivos. Nós morremos todos os dias dando de ombros ou rindo do nosso infortúnio.

O Brasil sofre com o problema crescente da selvageria urbana ligada ao tráfico de drogas, à violência sexual, ao abandono de crianças e adolescentes e às péssimas influências midiáticas. Como a bisonha novela de um canal aberto que faz o favor de multiplicar a escola das “gatas traficantes” como grife à meninada. E absolutamente nada é feito para conter isso. Não há política de governo, nem protocolo de enfrentamento. Só conversa fiada, teoria sobre a rebimboca da parafuseta, desvio oportunista de verba e ação zero. Enquanto os três poderes e a cidadania não entrarem em campo, com vontade de vencer em nome da verdadeira liberdade, a barbárie vai dominar o jogo. Até agora, a violência conquistou pontos demais. E por W.O.

Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895