O bairro é de todos

O bairro é de todos

Oscar Bessi

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Vai gerar estresse. Desgaste. Por isso, é preciso reconhecer que houve uma bela dose de coragem por parte do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, ao anunciar esta semana o decreto 21.234. A norma que dita as regras de convivência entre estabelecimentos comerciais, moradores e frequentadores do bairro Moinhos de Vento está estabelecida e em vigor. Não chega a ser um alívio, pois o futuro ainda dirá sobre erros e acertos da medida, sobre o que é real e o que talvez fique na névoa das boas intenções. Mas é um alento. Algo feito, finalmente. O problema não é novo e a inércia, até então, parecia sedimentada. Lembro que certa vez ouvi, decepcionado, uma autoridade pública municipal da época dizer que “esses transtornos são parte do chamado conflito urbano, então não há o que fazer em Porto Alegre”. Sempre haverá o que fazer. E fazer é dever do ente público. Do estado em seus diversos níveis. É para isso que o cidadão sua para pagar seus impostos e sustentar essas pesadas máquinas públicas dos três poderes. Criados, todos, para servi-lo. Nada além disso. É sempre bom lembrar.

Haverá descontentamento. Ainda mais quando as ações se espalharem e ingressarem em bairros ainda mais problemáticos, como a Cidade Baixa. Onde a permissividade fez a tentativa pífia de regra parecer escárnio. A resposta para esta grande questão é de uma raiz tão simples, e até simplória, que chega a ser irritante de tão óbvia e por ser, mesmo assim, sempre contestada. E com veemência. Poxa. É respeito. Só isso. Pensar no outro. Nada além. Por que é tão difícil assim entender que o mundo pode ser de todos e que o umbigo de certas criaturas não é, definitivamente, o centro do universo? O que custa atender uma regrinha suave, e assim, com certeza, vamos parar e pensar, não tem nada de pesado nisso, baixar o som ou não ficar de algazarra nas calçadas.
 
Não é lei do silêncio. Não é lei seca. Não é muro, censura, cadeia. É apenas uma regra para que as coisas aconteçam de modo equilibrado para todos, não apenas para um lado. Que é fácil beber, gritar, brigar, quebrar e estar nem aí. É fácil vender, lucrar, e estar nem aí. É sempre mais fácil esquecer o outro logo ali adiante. Um bairro é feito de pessoas. Cidadãos, todos. Seres humanos em posição de absoluta igualdade no convívio urbano, com os mesmos direitos e a mesma obrigação de ir em suas escolhas até onde o prejuízo para outro pedir para parar, ou voltar. Direito de ir e vir. De dormir, descansar após uma jornada exaustiva de trabalho, ouvir outra música que não a dos sons insuportáveis dos carros ou bares, ler, estudar. Idosos. Bebês. Doentes. Todos precisam da sua liberdade necessária de não ter sua paz invadida pela guerra interna alheia. Um bairro é de todos. E qualquer lugar de todos, exigirá regras de convivência. 


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