O presente do ausente

O presente do ausente

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Ficou claro, no escritório, que Vivaldinho não sabia o que dar de presente para a sua namorada. Porque deixou escapar um “ih, mais esta!”, irritado, bem ao lado da secretária, Dona Lucineide, que tanto gosta de um fuxico e fuxicaria sua desgraçada a todos. É que ouviu o estagiário falar ao telefone que não jogaria futebol hoje, pois ia encarar uma pizza c’a mina, entregar o presente e tal e tais.

Aí que lembrou. Dia dos Namorados! Putz!

Não bastasse Natal, Páscoa, aniversário, dia da mãe, do pai e poraís, onde mal terminava de pagar um e já outro presente engatava carnê sobre carnê, igual trem no negativo da sua conta bancária, alternativas não tinha: era isto, ou um motim íntimo que conhecia muito bem e dispensava.

Vivaldinho namorava Rosa desde nemseiquando. E ainda tinha as mesmas dúvidas de sempre sobre o que lhe dar nesta penca de datas especiais. Decidiu fazer pesquisa rápida: o que achavam as mulheres do escritório? Flores. Ou bombom? Nem um, nem outro, dê perfume, disse Paulinha, a sempre perfumada e de pernas perfeitas da contabilidade - que nem calculadora tinha, mas levava mil contas ao chefe a todo instante. "Roupa", atravessou-se Dona Ilda, outra secretária, que já informou ter blusas lindas para vender. "Jóia", disse a Lucineide, e anunciou ter umas bijus pra vender que eram o "must".

Sem resolver dúvida nenhuma, Vivaldinho decidiu procurar os homens. Mas, quanto mais velho o colega, menos bola dava ao seu questionamento. E os meninos vieram com ideias e nomes estranhos de cantores e  cantoras e etc. que ela nunca ouviu falar. Catou sugestões na internet e na rádio, na tevê e no jornal. Não se decidiu e nem se convenceu.

Então resolveu consultar ele, o sábio, o lógico, o maior, o predador. O chefe.

“Dê duas coisas, talvez, como bombom e flores. Convence mais”.

Nada como um chefe. Entendia de todos os assuntos. Até do amor. E ele, Vivaldinho, que andava ausente, que não fizera muitos gestos de amor no passado mais recente, daria dois presentes e resolveria a parada. Não, três. Daria três! Pesquisou com Lucineide onde se vendia isto, descobriu a teleentrega e encomendou. E voltou ao trabalho sem pensar mais no assunto.

Assim, Rosa recebeu do moço de entregas seu kit namoro: flores, bombons e perfume. O moço de entregas, ah o moço de entregas! Há quanto tempo mesmo? Foi ele que também entregou o beijo que Vivaldinho nem lembrava mais de dar.

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