O trote de lá e a impunidade daqui

O trote de lá e a impunidade daqui

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(coluna da edição impressa do final de semana)

 

Em março de 2012, um jovem de Ohio chamado Danik Kumar, que trabalhava como piloto de aeronaves particulares, sobrevoava o lago Erie quando emitiu um pedido de socorro às autoridades. Ele disse ter captado o sinal, na verdade, de um barco que pedia ajuda. Fosse aqui, no Brasil, talvez não desse muito resultado, pois até as coisas acontecerem, não é bem assim. Mas lá nos EUA houve mobilização imediata. A Guarda Costeira foi para o lago com todo seu efetivo disponível, o que não era pouco – pois lá isto também é diferente, eles contratam, e pagam bem, servidores que trabalhem para a população, principalmente na área de segurança pública. E foi aquela cena que nós, aqui, só conhecemos de filmes: locais isolados, muita gente trabalhando, ambulâncias a postos, etc.

Como é próximo da fronteira com o Canadá, as Forças Armadas do país vizinho mandaram um avião CC130 Hércules para ajudar nas buscas. Todos queriam localizar e socorrer o barco, não importava quantos nele estavam ou de onde vinham as vítimas. Vinte e uma horas de busca e nada. Nenhum vestígio do barco. Danik ali, apavorado, acompanhando as buscas, jurando ter repassado o tal pedido de socorro urgente. Um mês depois, porém, ele admitiu: era mentira. Ele resolveu dar um trote nas autoridades. Uma brincadeirinha inocente, alegou. Pois bem: foi condenado a pagar pagar US$ 277 mil em multas para a Guarda Costeira dos EUA e mais US$ 212 mil para as Forças Armadas canadenses. O que, em reais, dá quase um milhão. Mas não foi só isso. Foi condenado, mesmo com o pagamento das multas, a três meses de prisão. E se não pagasse as multas, ficaria preso até quitar seus débitos.

Eu só aproveito o exemplo para entrar num assunto que cada vez mais nos dá arrepios: a falta de credibilidade das instituições públicas brasileiras e a seriedade no cumprimento das leis. Nosso país vive uma crise de respeito que chega a beirar o inacreditável. É obra superfaturada, recurso desviado, políticos mergulhados num oceano de propinas em todos os níveis. O “estado”, federal, estadual ou municipal, perde a credibilidade. Porque não funciona. Não atende o povo. E, pior, o que acontece com essa gente? Politicalha e impunidade. Aí o povão, sofrido e cansado, fulo da vida e sem acreditar em mais nada, parte para fazer justiça com as próprias mãos. Sobra para o ladrão mais fraco e a barbárie começa. O descontrole, irmão da injustiça. Culpa de quem? Ah, não lavem as mãos, por favor!

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