O velho e o novo no front

O velho e o novo no front  

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O comando do 3º Regimento de Polícia Montada, em Passo Fundo, emocionou alguns veteranos do bom combate nesta semana. Com apoio da comunidade, foi recuperada a Viatura da Brigada Militar de prefixo 371. Nada de novo, não fosse quem ela é. Um fusca. Carro de 1984, restaurado graças a uma parceria de empresários do setor automotivo, antes era preservada apenas como peça decorativa do quartel. Agora volta à labuta. O comandante da unidade, Tenente-coronel Volnei Ceolin, apresentou essa joia histórica ao lado de nada menos do que a recente novidade no patrulhamento motorizado urbano, um Corolla novinho em folha. A foto de ambas, lado a lado, em condições plenas de defesa da cidadania e enfrentamento ao crime, levou às lágrimas muitos amigos que encararam as ruas embarcados em Fuscas, Opalas e Veraneios naqueles anos nem tão distantes assim. Outros tempos, diria alguém. Mesmas raízes, eu rebateria.

Defender a memória é um gesto de paz. Talvez alguns não consigam compreender exatamente como pode haver uma relação entre medo, violência e patrimônio histórico. Mas há. Quando preservamos a história, reforçamos nossa identidade, bem mais precioso de todos os povos. O pior dos efeitos da globalização é promover um apagar na identidade e na cultura local das pessoas ao padronizar costumes, alimentos, vestes, modas, vícios e etc. Tudo isto em nome de um mercantilismo salutar aos mercados legais que se espalham em redes pelo planeta, mas que também alimenta o mundo do crime. Não é à toa que as pilastras do crime organizado mundial avançam feito avalanches, como o tráfico de drogas, de armas, de pessoas e os contrabandos de toda ordem. É interessante para estes mercados clandestinos que sejamos zumbis globais. É bom que tudo possa ser vendido por ser consumido em qualquer canto do mundo. E possa ser roubado e revendido também.

Os crimes se reinventam, se multiplicam, se aceleram. As gestões de segurança que os enfrentam também. Numa realidade confusa e rápida, de valores efêmeros, cada vez mais a imagem tem poder, e o exemplo é transformado em lições. Um fusca do século passado rodando numa das nossas grandes cidades, identificado como a viatura policial que sempre foi, significa mais do que um carro antigo reformado. Significa que a luta pela paz tem história, que o enfrentamento ao ódio, ao crime e à violência tem uma grande estrada já percorrida. Estrada pavimentada por ideal e pelo sonho inabalável de um povo em viver dias sem medo. De ter a quem pedir ajuda, de confiar. Ter orgulho do que se é, por saber quem já foi um dia. E então ter certeza para onde vai.


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