Os guardiões da natureza

Os guardiões da natureza

Oscar Bessi

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A primeira quarta-feira de fevereiro de 2021 castiga o pampa com chuvas impiedosas. Indiferente ao mau tempo, o barco prefixo EQP 3820, do Batalhão Ambiental da Brigada Militar (CABM), singra as águas turvas do rio Caí de volta para a base, em Montenegro. A bordo do “holandês voador”, como é carinhosamente conhecida a embarcação da Patrulha Ambiental (Patram), o sentimento é de dever cumprido. Acima do cansaço, a certeza de ser instrumento de justiça, o braço da vontade social e cidadã na interrupção do crime. As fardas do tenente Luís e do soldado Pich estão cobertas de lama. Fica quase impossível, em um primeiro momento, diferenciar calças e coturnos sob o barro após horas de ação em ambientes, para os desavisados, inóspitos. Vai dar trabalho lavar a roupa e os coturnos. Muito trabalho. Mas isto não preocupa a dupla de policiais militares que compõe a satisfeita tripulação do “holandês”, enquanto os demais colegas de farda deslocam por terra com os resultados de mais uma operação de sucesso.
Naquela tarde, a Brigada Militar de Capela de Santana recebeu denúncias sobre o furto de um motor para bombeamento de água. Naquele instante, o acusado navegava pelo rio Caí. Imediatamente a base deslocou os soldados Deivid e Mantovão, por terra, e pediu apoio da Patram por água. Luís e Pich, mais o sargento Fábio e as soldados Denise e Naira foram até lá. A ação policial rápida não revelou apenas o esconderijo do motor furtado e resultou na prisão de um suspeito do crime, mas trouxe à tona um verdadeiro refúgio macabro de crimes contra a natureza. 
Foram encontrados animais silvestres empalhados, peles de jacarés, capivaras, lagartos, gambás, raposas e preás, cabeças de jacarés, patas, dentes, carcaças de tatu, pica-paus, maçaricos e marrecas empalhadas e duas corujas mortas congeladas em um freezer. Além de arma, munição, fardas militares, redes, armadilhas, maçaricos, balanças de precisão e muito mais. As fotos, divulgadas no Twitter do Comando Ambiental da Brigada Militar, são chocantes.
Não foi um ano fácil, o de 2020, para os guardiões da natureza. De Norte a Sul do Brasil, a violência e os crimes contra a natureza aumentaram de forma considerável durante a pandemia. E aumentou também a disposição desses criminosos de enfrentar os agentes de fiscalização e policiais. Gente boa morreu e foi ferida em ação contra estes bandidos. É uma guerra inglória. De um lado a ganância, o lucro fácil e o desrespeito. Do outro, heróis que ainda acreditam em valores humanos, em esperança e em um futuro melhor. E na força cidadã da lei brasileira que, mesmo com punições tímidas, garante alguma proteção ao nosso meio ambiente. A fé na viabilidade da vida eu vejo em cenas como esta: a farda enlameada, mas triunfante, dos policiais militares do Comando Ambiental do Rio Grande do Sul.

 


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