Os (nem tão) diversos mundos da violência

Os (nem tão) diversos mundos da violência

Histórias de crimes brutais proliferam pelo Estado. Casos devem ser combatidos com ciência e educação

Oscar Bessi

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Uma rua de casas simples, numa praia simples do litoral gaúcho. De gente simples. Num local onde o trabalho incessante e árduo de reciclagem deixa claro que a vida não é simples para ninguém dali. De repente, uma chacina brutal promovida por criminosos que, além de matadores frios, se revelam incendiários implacáveis. E, talvez vindos de longe, da capital, matam jovens, matam adultos, matam idosos. Matam quem nem tinha, pelo menos em sua ficha, envolvimento com qualquer crime ou facção criminosa. Apenas estava ali porque era onde o destino queria que ele estivesse.

Numa área rural, localidade de Passo Fundo, em Triunfo, um homem que se preparava para ser, mais uma vez, candidato a vereador é executado com 21 tiros na porta da sua casa. Enquanto isso, em Santa Catarina, uma mulher e dois homens são condenados pela morte brutal de um jovem advogado gaúcho na badalada – e caríssima – praia de Jurerê Internacional, há dois anos. o julgamento dos acusados pela morte do advogado. Um crime com requintes de tortura numa história onde a vítima se notabilizou por exibicionismos nas redes sociais, acusações de perseguição sem dizer quem eram seus perseguidores e um desfile de ostentações com carro de luxo, dinheiro e relações profissionais com “poderosos” do crime. Um dos condenados, ao lado da viúva e mandante do assassinato, era o fornecedor de cocaína do morto. O outro, seu guarda-costas. Entre as armas do crime apresentadas, um moedor de carne e uma marreta.

Entre estas três histórias tão sórdidas quanto repulsivas, muitas outras. Cenários tão distantes quanto diversos entre si. Mas, em todas elas, nalgum momento e como personagem principal, mola propulsora, mera característica ou principal suspeito, está o tráfico de drogas. Há que se pensar muito, e com responsabilidade, sobre este tema. E sem permitir que este debate se resuma a posições populistas, interessadas apenas em inflamar os de opinião divergente e inflexível para conquistar voto. O fato é: o número de mortes e violências relacionadas, bem como a teia de crimes adjacentes, associados ou correlatos, mas motivados pelas drogas, só aumenta. E o que vimos, no paralelo? Muita ação policial, mas por outro lado muita política pública sem resultado nenhum e o afrouxamento permissivo tanto da legislação quanto na aplicação desta. Bom, dá para ver que não está dando certo. Como se resolve? Com seriedade. Com ciência e educação. Com estudo e experiências de vida real. Fazer politicagem quando se precisa discutir vidas, só traz um resultado: mais mortes.


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