Chama a atenção o número de “influenciadores” que tem surgido nas páginas policiais brasileiras, apontados como pivôs de crimes dos mais diversos. São golpes de rifas e lojas que não entregam produtos, o estelionatário que enganava idosos em São Paulo, o sujeito que usava a doença da própria filha para dar golpes em Goiás e por aí vai. Fora comportamentos violentos no trânsito, na noite, em locais públicos. Tudo isto em meio a ostentações absurdas e inexplicáveis números astronômicos de seguidores em suas páginas. Digo inexplicáveis porque, em regra, todos eles têm um conteúdo no mínimo raso. Para ser gentil no adjetivo. Porque fora a voz chata e insuportável em altos decibéis, que parece um padrão de uniformidade (talvez uma tentativa frustrada de ser alto astral, mas que não consegue sair do mero irritante), a gama de bobagens, futilidades, grosserias e inverdades que se ouve desses sujeitos é assustadora. E se considerarmos que esses seguidores são formados, em boa parte, por nossas crianças e adolescentes, temos aí o perfeito quadro da dor.
Não pude deixar de relacionar essa cultura nociva à notícia de que a Procuradoria do STJD decidiu, esta semana, denunciar o Sport Clube Corinthians pelos absurdos deboches de seus torcedores à tragédia climática gaúcha de maio. O crime (sim, considero ato criminoso e de uma violência absurda!) ocorreu no jogo contra o Grêmio pela Copa do Brasil, em 31 de julho último, em São Paulo. Os paulistas passaram a provocar um grupo de torcedores gremistas, infinitamente em menor número (era a casa do adversário), faziam gestos apontando o céu como se fosse chover e passavam a imitar gestos de quem estava nadando, numa alusão às enchentes. Não é novidade: no jogo valendo vaga para as oitavas de finais da série D, domingo passado, em Pelotas, torcedores do time do Água Santa (também paulista, que coincidência!) fizeram a mesma provocação aos donos da casa. Meu Xavante, em resposta, meteu uma goleada e mandou os caras para casa. Não sei se a procuradoria do STJD não tomou conhecimento dos vídeos, que circulam nas redes sociais, ou se só conta quando a vítima é time da elite. Tomara que denunciem também.
Toda essa falta de escrúpulo, essa ausência de peso na consciência, essa facilidade em lesar, enganar ou humilhar o outro sem qualquer pudor, vem com certeza de berço. A Educação nunca foi um bem muito precioso no Brasil, é verdade. Mas algo está levando todo o desrespeito e intolerância a um patamar de banalidade que cheira a caos. É a frivolidade febril da rede social? É o nariz grudado o tempo todo no celular como quem está abduzido que torna as pessoas assim, vazias, apressadas, desrespeitosas e intolerantes? O que está havendo? Dá para reverter? Bom, eis o final de semana do Dia dos Pais. Pode ser só uma data comercial. Pode ser que o dia mais certo para reverenciar seu pai seja todo dia. E pode ser também que muitos pais ausentes nem merecessam a honraria desta palavra. Mas, enfim, é uma oportunidade. Até porque o verdadeiro influenciador das novas gerações está, ainda, dentro de casa. Para o bem e para o mal.
