Planos mirabolantes

Planos mirabolantes

Oscar Bessi

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Para gerar resultados positivos, a inteligência policial requer, quase sempre, agilidade e sintonia entre os órgãos envolvidos. Foi o que aconteceu esta semana em Charqueadas. Começou com o olhar atento dos agentes da Susepe, que faziam uma escolta de risco e viram um veículo suspeito na rodovia. Passou pela rapidez com que a informação foi repassada ao seu serviço de inteligência e, instantes depois, à Brigada Militar. Que imediatamente se dirigiu ao local e encontrou o veículo abandonado. Placas clonadas. E, dentro dele, um plano complexo, violento e de alto custo para liberar detentos da Penitenciária de Alta Segurança. Claro, o desconfiômetro das autoridades está ligado. Ou os bandidos são muito bisonhos, ou foi armada uma espécie de fakenews do crime com sabe-se lá qual objetivo (já é difícil entender a real intenção de uma fakenews normal, imagina algo assim). Mas a Polícia está investigando. E vai descobrir a verdade rapidinho.
Para quem acha impossível algo assim acontecer e que se está perdendo tempo, é bom lembrar que o tráfico de drogas é um crime milionário. Afinal, contrata bandido que não acaba mais, compra milhares de armas e veículos, corrompe um mundaréu de gente em todos os níveis e ainda sobra para viver melhor do que nós. Triste, mas é verdade. Eles têm dinheiro. E, no nosso mundo, quem tem dinheiro consegue o que quer. Até helicóptero. Até bancar uma ação mirabolante de resgate. Lembram do plano descoberto para libertar Marcola, com dois helicópteros e armas de guerra, com custo de cerca de R$ 100 milhões, há três anos? E o piloto de helicóptero sequestrado no Rio, mês passado, para um resgate de presos em Bangu? Resgate que só não se concretizou porque o piloto era um corajoso e arrojado policial civil carioca, que lutou com os seus sequestradores e impediu a ação.
Temos diversos episódios na crônica policial brasileira de operações complexas, realizadas por bandidos, para resgate de detentos com cargos chave na hierarquia das suas facções criminosas. E de outro tanto de planos frustrados por policiais. Mas o que chama a atenção, no caso de Charqueadas, é que havia mesmo um alerta sobre a possibilidade de resgate, já que um senhor doutor preso torceu o nariz e fez beicinho ao ser trocado de cela. Bah. Novidade? Vá o trabalhador torcer o nariz e chiar no chão da sua fábrica pra ver. As décadas vêm e vão neste país e essa batida não muda. Valores invertidos, enquanto as discussões realmente urgentes e necessárias são sufocadas por debates ridículos. A necessária recuperação da consciência nunca se inicia. Então seguimos escravos do absurdo. Criminosos se acham autoridades. E há quem se curve. Ou legisle, ou advogue, ou financie as suas causas. Que país. Plano mirabolante é ser um comum do povo e viver com dignidade. 

 


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