Praias, exageros e polícias

Praias, exageros e polícias

Oscar Bessi

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Dei azar nas minhas férias, peguei o período de Carnaval e, embora prevendo pouco agito em virtude da pandemia, precisei quase que me esconder. O desrespeito era gritante na orla, nos calçadões ou no centro das praias. Dia e noite. A gente pensa que os números que nunca baixam de vítimas no país, por conta desta pandemia louca, tocam os corações brasileiros. Ledo engano. Dói ver o que aconteceu nas principais praias gaúchas neste Carnaval. Um descaso gigantesco, uma tragédia anunciada. Porto Alegre já pede, logo após o feriadão, socorro. UTIs estão lotadas. As equipes de saúde não aguentam mais. Os profissionais do front estão no limite de suas forças. A Capital dos gaúchos não tem mais como receber as demandas do Interior, das cidades com menos recursos e poderio de enfrentamento. A irresponsabilidade plantou e colheu seu caos.
As polícias estiveram atuantes. O governador, autoridades estaduais e famosos fizeram apelos. Ninguém parece ter sido ouvido ou levado a sério. O que se viu no Litoral foi uma sucessão de aglomerações de desafiar a pandemia. O problema é que a Brigada Militar, por exemplo, precisou concentrar efetivos imensos no Litoral nesses dias. Talvez mais do que nos anos normais nos quais os shows e excessos já davam suas dores de cabeça típicas do negócio feito para lucrar em cima da doideira. Eram aeronaves, cavalos, viaturas, tropas de choque. Por quê? Para mandar um bando de irresponsáveis para suas casas. E eles insistiam em ficar, mudavam de lugar, movidos a álcool e drogas. Isso, nas noites e envolvendo uma imensa maioria de jovens. Mas não pense que o dia era diferente. O mar agitado não inibiu multidões que se aglomeraram em estreitas faixas de areia. Sem distanciamento. Sem máscaras. Sem prevenção alguma.
A criminalidade no Rio Grande do Sul vem caindo graças ao esforço das ações policiais. E, na pandemia, as polícias mostraram seu valor, ficando na linha de frente no enfrentamento ao novo coronavírus, principalmente nas situações de desrespeito às proteções exigidas no mundo inteiro. Agora, que me permitam uma observação negativa: na praia onde fiquei e em outras praias que vi, ou recebi informações, quase nada de ações das prefeituras. Praticamente nenhuma ação preventiva na orla, alguma campanha educacional ou mesmo de reforço da fiscalização, deixando para meia dúzia de agentes ou fiscais a tarefa de “grudar na Polícia” e fazer algo. Com um ano inteiro para planejar o veraneio, só se conseguiu jogar tudo para os ombros largos da Polícia? E os crimes que elas precisam priorizar, prefeitos? Talvez as preocupações maiores, ano passado, acima da pandemia fossem os pleitos municipais, as disputas de poder. Não seria novidade no país. Mas o que se viu, esse jogar da responsabilidade sobre os ombros das policiais estaduais, foi horrível. Esta conta, agora, é a população gaúcha que vai pagar. 


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