Quando a música te toca sem querer

Quando a música te toca sem querer

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Há certas músicas que ouvimos e, sem uma explicação maior, tocam fundo na alma. Chegam como um beijo. Como um mergulho, um retorno, um voo. Há tanto da gente naquele fluir simétrico e harmônico de sons que parecem ter sido sempre nossos, de mais ninguém. Despertam sensações. Libertam. Desabafam em teu silêncio. Parece que elas nasceram aqui, no peito, nessa pontinha gostosa de uma dor indefinida que sentimos e nem sabemos explicar.

E de repente ouvi-la apenas uma vez é muito pouco, ela precisa voltar, e voltar, e te fazer um cafuné nesse vazio que, olha só, parece maior do que se imaginava. Porque esse vazio é uma saudade que se tem e nem se sabe ao certo do que é, quem sabe um amor, quem sabe um desamor, um desassossego. Ou talvez não passe de um afago naquelas faltas que todos temos de coisas tão insignificantes que, por isso mesmo, são fundamentais. E que só percebemos quando o canto do olho arde sem explicar. Apenas arde.

Quando esta música tocar, se houver lágrima será apenas a singela homenagem ao teu melhor "eu" que existe. E que talvez você nem lembrasse mais que está ali, que na verdade sempre esteve e sempre estará, mesmo quando o mundo parece seco e imutável, injusto como a aparência das pedras. E você se olha no espelho e se acha com cara de mundo. Não. Ainda é você.

Quando esta música tocar, se houver sorriso, que seja seu. Que seja solitário, mas que seja tua resistência e esperança, tua dança, teu melhor desejo.

E mesmo que seja cantada noutro idioma e quase nada se saiba do que está sendo dito, essa música vai te tocar sempre. Há uma linguagem universal na melodia. Na poesia. Nalgum momento você vai parar para traduzir esta música e, pasme, vai descobrir que ela é ainda mais próxima do teu âmago, da tua essência, do que você imaginava.

Salve sua música favorita em todos os lugares possíveis, para que possa ouvi-la sempre que possível, sempre que necessário. Salve-a consigo. Salve-se em poesia.

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Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895